Europa e África estão "obrigados a entenderem-se" na migração e energia
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal Paulo Portas defendeu hoje que os continentes europeu e africano estão "obrigados a cooperarem" para enfrentarem problemas comuns e terem resultados positivos, incluindo migrações e a energia.
© Global Imagens
Política Paulo Portas
"Não podemos querer ensinar os africanos a serem africanos, precisamos de parcerias entre iguais, com resultados positivos para ambos, sem condescendências", disse o antigo governante, durante a sua intervenção no Eurafrican Forum, que termina hoje em Carcavelos, nos arredores de Lisboa.
"A cooperação entre os dois continentes é obrigatória em várias áreas, a começar pela migração e pela energia", apontou, salientando que apenas a uma hora e meia de Lisboa, em Marrocos, "está um das três maiores centrais solares de todo o mundo, num continente com excelentes condições para energias renováveis".
A vastidão dos recursos naturais, continuou, é propícia para os investidores pensarem "não apenas em petróleo e gás, mas sim em energias renováveis, solar, hídrica, eólica, até porque muitos dos vencedores em termos de crescimento económico são países com economias diversificadas".
"África é um parceiro natural se transferirmos tecnologias, partilharmos capitais e ajudarmos os empreendedores a construírem uma boa capacidade nesta área", disse.
Na intervenção, Paulo Portas vincou que o problema da migração de África para a Europa implica um "enorme acordo diplomático entre os países emissores, os que servem de plataforma e os recetores", até porque os países europeus, envelhecidos, precisam da juventude africana.
"A idade média de um africano é 19 anos, a de um europeu é 44, precisamos da imigração, Portugal, por exemplo, precisa de imigrantes devido ao envelhecimento da demografia, basta imaginar o que aconteceria aos restaurantes, aos hotéis, à agricultura ou à construção civil sem migrantes, basicamente colapsavam", afirmou.
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal mostrou-se "bastante preocupado com os sete golpes de Estado nos últimos três anos na região do Sahel", considerando que nalguns deles foram interesses ligados à Rússia que fomentaram as insurreições.
"Devíamos tentar entender por que aconteceram, por que mobilizaram os jovens, vimos o ressentimento contra parceiros europeus específicos e como a Rússia esteve por trás de alguns destes acontecimentos, não exatamente o Estado russo, mas o grupo Wagner, cujo novo nome é Africa Corps, e quem sabe um pouco de História deve ajudar a perceber como isto é preocupante", concluiu.
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