Teresa Moreno, a neuropediatra que acompanhou as gémeas luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma em Portugal, foi ouvida, esta sexta-feira, na comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso.
Perante as questões dos deputados, nomeadamente sobre o elevado custo do Zolgensma - tido como o mais caro medicamento do mundo -, a médica preferiu considerar que "a vida não tem preço".
"É uma reflexão que temos como médicos, mas, em relação aos meus doentes, a minha obrigação é tentar obter o melhor tratamento possível a que tenham direito. A questão dos custos, deve-se falar a nível superior e não é propriamente a obrigação do médico", complementou, em resposta ao deputado do Partido Comunista Português (PCP) Alfredo Maia.
Na sua declaração inicial, a médica garantiu que, em 2018, quando começaram a aparecer os primeiros medicamentos para tratar a atrofia muscular espinhal (AME) - a doença de que estas gémeas sofrem -, "foi quase como um milagre".
"É na sua maioria uma doença muito dramática. Até há bem pouco tempo não havia nenhuma terapêutica e levava irremediavelmente à morte nos primeiros dois anos de vida", explicou, admitindo que, até esta data, tem memória de terem morrido, no seu âmbito profissional, "pelo menos 20 bebés" com esta doença.
Em 2019, quando apareceu o Zolgensma, "foi ficção científica, para os médicos também", continuou, esclarecendo: "O que sabemos agora, 2024, sobre qualquer destas terapêuticas, a evolução, os novos fenótipos da doença, é completamente diferente do que sabíamos em 2019, à data destes factos. O conhecimento era outro. Vejo misturadas conclusões e apreciações sobre os efeitso que, à luz do que sei agora, é uma coisa, à luz do que sabíamos em 2019, era outra coisa".
A Assembleia da República tem protagonizado, nos últimos meses, uma comissão parlamentar de inquérito ao caso das duas gémeas luso-brasileiras que receberam tratamento com o medicamento Zolgensma no Serviço Nacional de Saúde, estimando-se que este será o medicamento mais caro do mundo, estimando-se o valor em dois milhões de euros. Suspeita-se que as bebés terão tido um acesso privilegiado ao medicamento, com recurso a influências na esfera política, em que são suspeitos o filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, e o antigo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales.