Novo passe sem carruagens pode pôr CP em "situação gravíssima"
O PCP avisou hoje que o Passe Ferroviário Verde anunciado pelo Governo pode colocar a CP numa "situação gravíssima" se não forem desbloqueados os concursos de aquisição de novas carruagens, pedindo uma melhoria na qualidade e quantidade da oferta.
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Política PCP
Este aviso foi feito pelo deputado do PCP António Filipe em declarações aos jornalistas nas oficinas da CP - Comboios de Portugal em Campolide, no âmbito das jornadas parlamentares do PCP, após ter visitado e se ter reunido com vários responsáveis das oficinas e com organizações representativas dos trabalhadores.
Numa dessas reuniões, o diretor executivo das oficinas de Campolide, Pedro Rita, frisou que o concurso para a aquisição de 117 novos comboios para a CP está atualmente suspenso, após ter sido posto em litigância, o que está "a atrasar em muito a adjudicação e o próprio fabrico" das unidades.
"Sem essas unidades, torna-se difícil responder a este 'boom' bom que temos tido no incremento do número de pessoas transportadas", frisou, falando num aumento de 20% das pessoas transportadas, que tem trazido novas exigências à manutenção das carruagens já existentes.
Aos jornalistas, António Filipe salientou que há "investimentos que são mais do que necessários na ferrovia em Portugal", salientando que isso "passa pelo desbloqueamento dos concursos para aquisição de carruagens, que são obviamente necessárias para as medidas que têm vindo a ser anunciadas em termos de acessibilidade".
Questionado se considera que, caso esses concursos não sejam desbloqueados, o Passe Ferroviário Verde pode pôr em causa a CP, o deputado respondeu: "Pode ser uma situação gravíssima para o funcionamento da empresa, pode conduzir de facto a um bloqueamento".
"Porque se nós adotarmos uma política que é justa, de embaratecimento do transporte - que é um benefício óbvio para as populações - isso tem de ser acompanhado de melhor oferta, quer em quantidade, quer em qualidade", disse, acrescentando que, sem os investimentos necessários, designadamente quanto à quantidade de carruagens em circulação, "pode-se criar uma situação que acaba por penalizar muito os utentes".
O deputado do PCP salientou ainda que, durante as reuniões de hoje, foi chamada a atenção para o facto de a CP ter "grandes dificuldades em contratar e reter trabalhadores devido aos baixos salários que pratica".
"É uma questão crítica para a empresa e é uma matéria sobre a qual o PCP não deixará de intervir, até porque temos vindo a colocar com muita veemência a necessidade de se alterar no nosso país estas política de baixos salários", garantiu.
António Filipe fez estas declarações depois de ter visitado as oficinas da CP de Campolide, que empregam 54 técnicos dedicados exclusivamente à manutenção de comboios suburbanos.
Estas oficinas recebem diariamente cerca de 22 comboios, para verificar e corrigir eventuais avarias, procedendo a manutenções de primeiro nível, como a reparação de portas avariadas, remoção de grafítis, torneamento de rodas defeituosas ou substituição de travões, vidros ou bancos.
Tendo em conta que os últimos comboios suburbanos adquiridos em Portugal remontam a 2004 - e vários têm muitas décadas, como na Linha de Cascais, onde circulam unidades de 1926 -, o trabalho de manutenção feito nestas oficinas é fundamental para o funcionamento da ferrovia em Portugal.
O diretor executivo das oficinas, Pedro Rita, salientou que, tendo em conta a antiguidade dos comboios em operação em Portugal, "a obsolescência é, de facto, uma realidade", designadamente a nível de conceitos e sistemas eletrónicos, frisando que é difícil combatê-la porque os fabricantes "querem sobretudo vender" e as renovações de sistemas são "pornograficamente caras".
"Temos conseguido, 'in house', fazer desenvolvimentos que nos garantem a continuidade dos comboios. Acabámos de fazer uma remodelação geral a uma unidade de dois pisos, que nos vai garantir, pelo menos, uma atividade de mais 15 a 20 anos", exemplificou, salientando que a CP se está a tornar num exemplo europeu a nível de reposição de serviços, dando como exemplo a renovação das carruagens compradas a Espanha, e manifestando o desejo de começar a "vender conhecimento".
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