O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, quer ouvir o antigo primeiro-ministro, António Costa, sobre os últimos desenvolvimentos na Operação Influencer, sobre o facto de o antigo chefe de gabinete do ex-primeiro ministro, Vítor Escária, ter uma 'pen-drive' com a identificação e outros dados pessoais de centenas de agentes de vários serviços públicos. António Costa disse desconhecer "em absoluto do que se trata".
"Queremos esclarecer, queremos confrontar António Costa com estas informações e ter a certeza de que assim é, de que não tinha conhecimento e de que não fez nenhum tipo de utilização da informação em causa", afirmou Rui Rocha, em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos, na Assembleia da República, anunciando que vai pedir uma audição parlamentar ao agora presidente do Conselho Europeu e que quer, também, ouvir os dois últimos chefes do gabinete do ex-primeiro ministro, Vitor Escária e Francisco André, bem como os diretores dos serviços de segurança e de informações atingidos por este caso.
Para o presidente da IL, este caso "pode configurar uma situação criminosa e, sobretudo, é uma falha da informação que pode causar questões muito melindrosas ao Estado português".
"Estamos aparentemente perante uma falha grave de confidencialidade de assuntos muito melindrosos que podem pôr em causa a segurança do Estado. É obrigação da IL trazer ao parlamento os responsáveis, as pessoas que estavam em funções nessas alturas e quem teve acesso a essa informação", justificou.
Rui Rocha acrescentou que quer ouvir de António Costa e dos seus dois últimos chefes de gabinete explicações se "tinham ou não conhecimento desta informação, como é que a receberam, o que lhe fizeram, se a usaram ou não, porque é informação com um melindre associado".
"Não queremos imaginar que essa informação tenha sido utilizada sequer e muito menos utilizada para alguma finalidade política", completou.
Questionado sobre o facto de se tratar de uma processo judicial em curso e o Parlamento poder não conseguir obter os esclarecimentos que pretende, o presidente da Iniciativa Liberal salienta que "há questões criminais que serão objeto de análise e de investigação", mas "há também questões políticas" e que "é importante ouvir".
"É demasiado grave para que o Parlamento não tenha também uma intervenção e não procure esclarecer, também do ponto de vista da responsabilidade política sobre o que estará em causa nesta matéria", frisou Rui Rocha.
Sobre o requerimento, o deputado disse que António Costa poderá responder por escrito, mas que "aquilo que desejaria" era que António Costa fosse "ao Parlamento explicar esta questão".
Após a conferência de imprensa, a IL esclareceu através de uma nota que pretende que as audições decorram "à porta fechada", estando nesta situação António Costa e os seus os seus dois últimos chefes de gabinete, os diretores do SIS, SIED e Polícia Judiciária e a diretora-geral da Autoridade Tributária.
O requerimento foi dirigido à presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, a deputada social-democrata Paula Cardoso.
De recordar que, na manhã desta quarta-feira, foi noticiado pela revista Sábado que em novembro de 2023 foi apreendida num cofre no gabinete de trabalho Vítor Escária, antigo chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro António Costa, uma 'pen-drive' com a identificação e outros dados pessoais de centenas de agentes do Serviço de Informações e Segurança (SIS), Serviço de Informações Estratégicas e Defesa (SIED), Polícia Judiciária (PJ) e Autoridade Tributária (AT).
"Confirma-se que, relativamente aos factos agora noticiados, foi instaurado inquérito, em novembro de 2024, no DCIAP [Departamento Central de Investigação e Ação Penal]", referiu, questionada pela Lusa, fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR), acrescentando que a investigação se encontra em segredo de justiça.
Segundo a Sábado, Vítor Escária alega que desconhecia o conteúdo da pen-drive e que esta chegou ao Palácio de São Bento com o anterior chefe de gabinete.
O advogado de António Costa disse hoje à Lusa, que o ex-primeiro-ministro, atual presidente do Conselho Europeu, desconhece "em absoluto do que se trata".
"Em momento algum foi o meu constituinte confrontado com a existência desta alegada pen ou com o seu conteúdo, desconhecendo em absoluto do que se trata", afirmou João Lima Cluny.
[Notícia atualizada às 17h19]
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