O ex-dirigente do CDS e Conselheiro de Estado António Lobo Xavier considera que a polémica com a imobiliária da família "não está a correr bem" ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, porque "se é casado em comunhão de bens adquiridos não pode livrar-se dessa posição simplesmente doando à mulher".
"Essa é a parte que mais me intriga. Não tenho dúvida de que não fez negócios. Na política, em relação a certas pessoas, partimos do princípio de que o caminho delas nos dá segurança, já pensava isso de António Costa, por exemplo. Parece-me que o primeiro-ministro jurista que explica o fim da ligação à sociedade por ter doado a quota à mulher, nestas circunstâncias jurídicas, é uma coisa que começa por ser embaraçante", defendeu, em entrevista à SIC Notícias, Lobo Xavier.
Para o advogado, é óbvio que Montenegro "não se livrou da sua posição social".
"Sobre isso não há dúvida nenhuma, nem sequer é preciso esperar pelos esclarecimentos de sexta-feira. Há ali uma série de potenciais negócios a que um primeiro-ministro não pode estar ligado e dos quais não se desligou pelo simples facto de ter doado a quota à mulher", afirmou o ex-dirigente do CDS.
Lobo Xavier disse ainda que "provavelmente Luís Montenegro pensou que este assunto passaria rapidamente". Como não passou, a única "forma de o resolver" é "pedir desculpa".
"E eliminar completamente as relações com essa sociedade. Essa é a única saída", acrescentou.
O primeiro-ministro declarou-se na quarta-feira "muito tranquilo" com a situação da empresa da sua família e voltou a remeter explicações para o debate da moção de censura no Parlamento.
Manifestou-se também "convencido de que os parlamentares, em primeira mão, à minha frente, e o país perceberão" que assim é.
O Correio da Manhã noticiou no sábado que a empresa Spinumviva da família de Luís Montenegro "poderá beneficiar com a alteração à lei dos solos aprovada pelo Governo" e que, sendo o primeiro-ministro "casado em comunhão de adquiridos com a principal sócia da firma", isso o deixará "numa situação de potencial conflito de interesses".
Em resposta ao jornal, o primeiro-ministro defendeu que não existe qualquer conflito de interesses, afirmou que desde 30 de junho de 2022 não é sócio dessa empresa, de que foi fundador e gerente, e que "nunca foi, não é e não será objeto da atividade da empresa qualquer negócio imobiliário ligado à alteração legislativa" da lei dos solos.
No domingo, o presidente do Chega, André Ventura, ameaçou apresentar uma moção de censura ao Governo PSD/CDS-PP, se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, não desse explicações ao país sobre este assunto, o que ainda não aconteceu, e a moção entretanto foi entregue, e será debatida e votada na sexta-feira.
Na segunda-feira, André Ventura disse que a empresa em causa tem sede na casa de Luís Montenegro, em Espinho, e exigiu ao Presidente da República que encare as atuais condições políticas do primeiro-ministro para se manter em funções.
Embora demarcando-se da moção de censura, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, considerou que este caso é "muito semelhante" ao que levou à demissão do secretário de Estado Hernâni Dias e instou também Luís Montenegro a dar explicações "o quanto antes".
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