Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, salientou que o "verdadeiro conflito de interesses" que existe atualmente em Portugal opõe "a família Amorim, detentora da Galp, e 2,2 milhões de famílias", que têm de comprar uma botija de gás "para aquecer a sua água, os seus alimentos, tomar o seu banho".
Paulo Raimundo defendeu que "nada justifica" que se pague em Portugal o dobro do que se paga em Espanha por uma botija de gás, considerando que se trata de um "escândalo nacional" que vai "passando de fininho" enquanto se falam de outras polémicas, que "estão muito longe da vida de cada um dos que trabalham e vivem" no país.
"Um exemplo pessoal: eu paguei no dia 11 de fevereiro 36,90 euros por uma botija de gás. Fui eu que a paguei, para além de a ter de carregar às costas. Sou eu e mais quase cinco milhões de pessoas no nosso país, e para quê? Para que a Galp tenha 960 milhões de euros de lucros", criticou.
O secretário-geral do PCP recordou que o partido apresentou, na discussão do Orçamento do Estado para 2025, uma proposta para reduzir o IVA da eletricidade, telecomunicações e gás dos 23% para os 6% e fixar o preço do gás de botija nos 20 euros, frisando que PSD, CDS, PS, Chega e IL votaram contra.
"Vão ter uma nova oportunidade para o fazer, porque nós voltaremos a apresentar esta proposta na Assembleia da República, logo que seja possível, e veremos se, mais uma vez, PSD, CDS, IL Chega e PS vão optar pela família Amorim ou por 2,2 milhões de famílias no nosso país", desafiou.
Paulo Raimundo referiu que, nos últimos três debates quinzenais, confrontou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, sobre este tema, mas não obteve qualquer resposta, prometendo voltar a fazê-lo brevemente.
"Certamente será muito mais difícil ao senhor primeiro-ministro não responder nas próximas vezes que seja questionado", disse.
Interrogado se acha que o primeiro-ministro deve dar explicações sobre o alegado conflito de interesses relacionado com a empresa da mulher e filhos, Paulo Raimundo respondeu: "Certamente que teremos muito tempo para clarificar essa questão"
"É bom que todas as explicações sejam dadas, isso não há dúvida nenhuma, desde que isso não sirva para desviar este conflito de interesses que aqui explanei: da família Amorim e de 50% da população portuguesa, daqueles que cá vivem e trabalham, que pagam o dobro", referiu.
Esta terça-feira, na conferência de imprensa de encerramento das jornadas parlamentares do PCP, em Leiria, a líder parlamentar do partido, Paula Santos, anunciou que os comunistas vão avançar com um projeto de lei para definir um "preço máximo de venda ao público do gás engarrafado".
Paula Santos afirmou que o PCP vai também propor "a regulação de preços nos combustíveis, para estancar e reverter os exorbitantes aumentos que continuam a penalizar o povo e o país".
"O Governo, em conjunto com a Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) pode e deve fixar preços máximos e definir preços de referência, com base em critérios técnicos e de viabilidade económica, e controlando margens brutas de refinação nos combustíveis simples e no GPL, vulgo gás de botija", disse.
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