No frente-a-frente desta noite entre o presidente da IL e o secretário-geral do PCP, transmitido na SIC Notícias, o primeiro tema abordado foi a presença do Estado na sociedade, com Paulo Raimundo a considerar que o setor da habitação é um exemplo claro de que "o modelo de Rui Rocha e da IL falhou".
"O Estado praticamente não existe [na habitação], as rendas estão profundamente liberalizadas e os resultados estão à vista de toda a gente. Aproveito para dar uma novidade ao Rui Rocha: é que, para resolver, este drama da habitação, é preciso que o Estado intervenha mesmo", disse.
Na resposta, Rui Rocha considerou "absolutamente surpreendente" que Paulo Raimundo fale de "abordagens económicas que falham", porque representa a ideologia de regimes como o da Venezuela ou de Cuba, "que são um falhanço total".
"Aliás, para falar de falhanços de programas económicos, deixe-me falar do programa económico que Paulo Raimundo apresenta ao país que, se fosse aplicado, teria como consequência uma bancarrota ao país", disse, afirmando que só com o "aumento de despesa do Estado e a nacionalizações" que propõe, o programa do PCP teria um custo acima de 40 mil milhões de euros.
Paulo Raimundo acusou Rui Rocha de ter trazido "a cartilha de sempre" no que se refere ao PCP e ironizou que perdeu uma aposta porque tinha dito a uns amigos que o líder da IL só ia falar de regimes como a Venezuela a meio do debate, mas afinal "foi logo à entrada".
Sobre as acusações de que o programa da CDU levaria o país à bancarrota, Paulo Raimundo respondeu que a bancarrota que o país tem "não é banca que está rota, o que está roto é o bolso dos portugueses", e criticou o plano de privatizações de empresas como a TAP, a Caixa Geral de Depósitos e a RTP proposto pela IL.
"Eu, sinceramente, não estou a brincar, é mesmo a sério: tenho ideia que, no programa de privatizações da IL, a água está fora? Está fora?", ironizou, com o líder da IL a responder que sim.
Em contraponto, Rocha salientou que as nacionalizações que o PCP propõe, como a da ANA, da Galp, da REN, CTT ou Fertagus, seriam "um peso incomportável para o Estado" e serviriam para "terraplenar a economia portuguesa".
"Vou-lhe dizer uma coisa: se o Paulo Raimundo tiver saudades da 'troika', faça uma coisa: meta o programa do PCP no correio e envie para o destinatário. No dia seguinte, temos cá a 'troika'", disse Rui Rocha, com Raimundo a contrapor que o programa nunca chegaria no dia seguinte porque a privatização dos CTT "arrasou com a entrega postal".
Os dois líderes abordaram depois o setor da saúde, com Rui Rocha a considerar é corresponsável pelo estado atual do SNS, devido à sua participação na 'geringonça', e defendeu que é preciso um modelo que dê aos utentes a escolha entre o setor privado, público ou social.
Raimundo acusou Rocha de querer "todos os recursos e meios do Estado" na saúde vão para o privado e defendeu que o SNS é o "único sistema que garante a saúde a todos" é o SNS.
Os dois líderes falaram ainda sobre os salários, com Rui Rocha a manifestar confiança de que, com as medidas que a IL preconiza, haverá crescimento económico e, como consequência, os salários aumentarão, sem fixar qualquer meta.
"Agora, deixe-me dizer, os salários não sobem por decreto", disse, numa crítica ao PCP que quer a fixação do salário mínimo nacional nos 1.000 já em julho, com Paulo Raimundo a defender que essa medida não é "uma extravagância" e a criticar quem fixa metas salariais para 2029 inferiores ao que já se ganha hoje em Espanha.
A palavra final do debate coube a Rui Rocha, que criticou a posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia e acusou o partido de achar que "Putin fez bem" ao invadir o país.
"Não lhe fica bem acabar o debate assim", foi repetindo Raimundo, que já não teve tempo para responder.
[Notícia atualizada às 23h45]
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