Os fãs de ‘The Last of Us’ esperaram uma geração inteira por esta continuação. Lançado em 2013 sob aplauso da crítica e jogadores, ‘The Last of Us’ tornou-se rapidamente um dos grandes títulos com o selo de qualidade da PlayStation, sendo claro pelo final do original que o estúdio Naughty Dog não deixaria de lançar uma continuação.
Assim, ainda antes de a PlayStation 4 ser lançada em finais de 2013, ‘The Last of Us Part II’ já era um dos exclusivos mais esperados da então consola de nova geração da Sony. Não deixa então de ser curioso encerrar o ciclo de vida da consola com ‘The Last of Us Part II’, que é deste modo um dos últimos exclusivos da plataforma antes da chegada da sucessora no final do ano.
Toda esta espera (recheada da sua dose de adiamentos) fez com que os fãs do original e do trabalho da Naughty Dog - que inclui ainda as séries ‘Crash Bandicoot’, ‘Jak and Daxter’ e ‘Uncharted’ - não conseguissem deixar de ficar ansiosos pelo lançamento de ‘The Last of Us Part II’. Será que a espera foi recompensada? A PlayStation Portugal enviou ao Notícias ao Minuto um código para que pudéssemos tirar as nossas conclusões e, ficamos contentes por vos dizer que sim… ainda que não saia totalmente ‘ileso’.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Um história cheia de surpresas
Descrever a experiência que é ‘The Last of Us Part II’ não é algo fácil de fazer. Além dos limites criados para manter a experiência intacta, também não desejaríamos estragá-la aos fãs. Ao mesmo tempo, concordará quem jogar a ‘The Last of Us Part II’ que esta continuação tem tanto de conservador como de arrojado,sobretudo do ponto de vista da narrativa.
Sobre este assunto basta dizer que títulos que fizeram algo semelhante no passado foram duramente criticados. Crédito à Naughty Dog por não ter receio de desafiar o ‘status quo’ e prosseguir em frente com o enredo de uma forma significativa.
Posto isto, o enredo propriamente dito foca-se em Ellie anos depois de ser resgatada por Joel de membros dos Fireflies. O jogo não perde tempo e começa com a difícil decisão tomada no final do original, quando Joel impediu que Ellie (imune ao vírus por detrás do fim do mundo de ‘The Last of Us’) morresse, ao mesmo tempo que impediu que esta servisse para criar uma vacina.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Agora a viverem numa pequena comunidade de Jackson, Joel e Ellie vivem um momento mais calmo e dominado pela rotina. ‘The Last of Us Part II’ leva algum tempo para dar aos jogadores um pequeno vislumbre da vida que as personagens viveram nos últimos anos, com um ambiente leve e quase bucólico que é completamente ‘atropelado’ pelas horas que se seguirão.
‘The Last of Us Part II’ é um jogo com violência. Muita violência. Tanta que por vezes parecerá que a Naughty Dog está demasiado deslumbrada por ela e pelas capacidades que a PlayStation 4 ainda tem de criar cenas grotescas. Toda esta violência tem (naturalmente) o objetivo de mostrar aos jogadores que nada pode ser tomado como garantido, que o mundo de ‘The Last of Us’ é capaz de impactar qualquer um que viva nele.
É precisamente este lado negro com que contrasta com a verdadeira temática de ‘The Last of Us Part II’: empatia. Em vez de se focar no vírus cordyceps, ‘The Last of Us Part II’ concentra-se nos humanos e nas suas diferentes facções. Dominados pelo terror de um mundo sem futuro, os seres humanos de ‘The Last of Us Part II’ não têm nada a perder e estão mergulhados em guerra entre si mesmos, aplicando violência e a mostrar o pior lado da humanidade. O enredo de ‘The Last of Us Part II’ mostra que, independentemente das atrocidades que cometamos, todos retemos parte da nossa humanidade, mesmo quando está escondida por detrás de trauma e desejo de vingança.
Será altamente debatível se ‘The Last of Us Part II’ tira alguma conclusão com estes temas mas, dado que tanto quanto sabemos poderá haver uma continuação, é possível que estejamos a olhar para uma história ainda inacabada. Se for o caso - e a Naughty Dog acabe por prosseguir para um ‘The Last of Us Part 3’ como já adiantou o diretor Neil Druckmann - não há como não ficar entusiasmado com o futuro da série depois de ‘The Last of Us Part II’.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Viajar no fim do mundo
Enquanto podemos dizer que o enredo de ‘The Last of Us Part II’ é um dos lados mais ‘corajosos’ deste jogo, não podemos dizer o mesmo da jogabilidade onde a Naughty Dog se manteve mais conservadora. Não nos interpretem mal, a jogabilidade continua afinada e está exatamente igual ao que se lembram do original, com algumas novidades que valem a pena mencionar. Ellie tem agora a capacidade de se baixar ou até deitar para se esconder em ervas mais altas, o que não quer dizer que os inimigos sejam incapazes de a detetar se passarem suficientemente perto.
‘The Last of Us Part II’ assenta na mesma mistura entre ação furtiva e mais frenética, recomendando-se a primeira (devido à necessidade de conservar munições e itens) mas não desvalorizando a segunda. Em certo ponto, ‘The Last of Us Part II’ acaba ser mais divertido quando o jogador tem de ser criativo para lidar com inimigos, sejam eles humanos ou criaturas tomadas pelo vírus. Aliás, em algumas situações é até possível colocar estes dois tipos de inimigos uns contra os outros, tomando mais tempo para eliminar cada um deles ou até passando de parte para evitar o conflito. Neste ponto é importante referir que o vírus está mais desenvolvido, o que levou a que certas criaturas tomassem formas mais monstruosas e contribuam para momentos deveras impactantes.
O jogo tem também mais exploração do que o antecessor, com áreas mais abertas recheadas de cantos e recantos onde se podem encontrar pedaços de materiais para criar itens, novas armas (que podem ser todas melhoradas) ou colecionáveis. As capacidades de Ellie também podem ser melhoradas, o que permite ter algum sentido de progressão. No entanto, dado que certas habilidades só podem ser desbloqueadas com livros de instruções encontrados pelo cenário, consideramos que esta progressão tenta dar uma ilusão de escolha e é demasiado linear para ser um factor relevante no aproveitamento.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Igualmente lineares são as sequências a nado. Sim, Ellie tem a capacidade de nadar em ‘The Last of Us Part II’ mas, à margem de alguns segmentos onde pode ser aproveitada para abordar inimigos ou de explorar determinadas zonas, diríamos que foi algo subaproveitada.
A estrutura de ‘The Last of Us Part II’ também é mais imprevisível do que acontece no original. Enquanto em ‘The Last of Us’ os jogadores tinham encontros intercalados entre humanos e criaturas, em ‘The Last of Us Part II’ é difícil perceber o que se segue. Aliado ao enredo, os momentos altos do jogo são bons argumentos para prosseguir em frente e arriscamos dizer que alguns deles estão entre os melhores já criados pela Naughty Dog.
Mesmo que sejam cenários destroçados (e por isso algo aborrecidos à primeira vista) a capacidade de ‘level design’ dos produtores está no seu mais alto nível e amplifica a tensão, reduzindo ao máximo o nível de controlo do jogador. Grande parte deles ficarão na memória coletiva dos fãs.
Tudo isto é positivo e não teríamos qualquer motivo de queixa não fosse pela longevidade. ‘The Last of Us Part II’ é um jogo longo, significativamente mais longo que o original e demasiado para o seu próprio bem. Não que o que aconteça na história nas horas finais não seja relevante (porque é), mas o facto de não haver evoluções significativas na jogabilidade pode fazer com que ‘The Last of Us Part II’ estagne um pouco, prejudique o ritmo e perca parte do seu impacto. Ainda assim, o envolvimento com o enredo e as personagens será tanto que temos a certeza que não descansará enquanto não vir os créditos finais.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Tradição da Naughty Dog
De resto, ‘The Last of Us Part II’ é uma verdadeira experiência da Naughty Dog com todos os 'standards' a que a produtora habitou. A nível de grafismo é um dos melhores (senão mesmo o melhor) que já passou pela PlayStation 4 o que, com a memória recente de ‘Death Stranding’, é dizer muito. Desde as nuances nas expressões faciais, passando pelos pingos de chuva até aos raios de sol que penetram timidamente pelas folhagens das árvores. Estas cobrem agora grandes vastidões de cidades, criando ‘storytelling’ visual ao mostrar como a natureza reclamou a nossa civilização depois de passos vários anos do original. O lado primitivo a tomar conta do que resta da humanidade.
A mesma mestria encontra-se na banda sonora e trabalho vocal. Novamente a cargo de Gustavo Santaolalla, o trabalho sonoro ‘The Last of Us Part II’ continua a ser a uma experiência evocativa e cada arranhar das cordas de guitarra é um momento íntimo com a personagem que temos diante de nós.
Dentro deste departamento temos também de elogiar o elenco. Além de Ashley Johnson e Troy Baker, que marcaram presença no original, juntam-se os talentos de Laura Bailey, Shannon Woodward e Stephen A. Chang, entre muitos outros. Mais do que emprestarem excelentes desempenhos vocais às personagens, as interações são credíveis a um nível raro para a indústria dos videojogos. Certamente um novo standard de qualidade a que outras produtoras deverão começar a almejar.
© Sony Interactive Entertainment / Naughty Dog
Considerações finais
‘The Last of Us Part II’ é um jogo que preenche todos os requisitos para ser considerado um dos clássicos da PlayStation 4. Ainda que a jogabilidade não sofra grandes evoluções ou surpreenda por aí além, o enredo, as interações entre as personagens e os pormenores gráficos de luxo podem levá-lo a recomeçar ‘The Last of Us Part II’ assim que o termine pela primeira vez.
O New Game+ (com todas as habilidades e armas até aí desbloqueadas) e o desejo de ter todos os itens colecionáveis são incentivos óbvios para os fãs que queiram jogar mais do que uma vez. Mais ainda, diríamos que uma vez encerrada a história de ‘The Last of Us Part II’ os fãs voltarão a querer experienciá-la só para conseguir reunir mais pormenores.
Nem todos os estúdios conseguem lidar com a pressão de um projeto como ‘The Last of Us Part II’. A ansiedade dos fãs, aliada ao olho atento da crítica, fariam com que a maioria das produtoras não conseguisse atingir as expetativas, ficando mais do que claro que a Naughty Dog passou na prova.
Pontos fortes
- História é a verdadeira força-motriz;
- Grafismo está ao melhor nível do que se fez na PS4;
- Trabalho vocal dos atores torna as personagens credíveis;
- Áreas mais abertas ajuda a expandir a jogabilidade...
Pontos fracos
- …Que ainda assim acaba por estagnar devido à longevidade;
- Sistema de progressão um pouco linear.
Ideal para…
É fácil perceber que qualquer pessoa que tenha jogado a ‘The Last of Us’ terá pelo menos um leve interesse nesta continuação. Por seu lado, os fãs não precisarão de qualquer incentivo para voltarem a entrar neste mundo, com muitas surpresas (e alguns momentos chocantes) pelo meio.
Quem não é fã de ação furtiva poderá ficar de pé atrás mas mesmo esses jogadores poderão encontrar diversão ao adotar um estilo de jogo mais imediato e propenso para a criatividade. De resto, é um daqueles jogos que se tornará um clássico imediato desta geração e um dos derradeiros títulos da PlayStation 4 que está nos seus meses finais de ‘vida’.