Luis Rubiales começou a ser julgado em 03 de fevereiro por agressão sexual por causa do beijo a Jenni Hermoso no Estádio de Sydney, no momento em que as jogadoras da seleção de Espanha eram felicitadas por diversas autoridades e recebiam as medalhas de campeãs do mundo, título que acabavam conquistar.
Foi ainda julgado por coerção, juntamente com o ex-diretor da seleção masculina de Espanha Albert Luque, o então selecionador Jorge Vilda e o antigo diretor de marketing da federação Ruben Rivera, por alegadas pressões sobre a jogadora, nos dias seguintes ao beijo, para que fizesse declarações públicas a desvalorizar o ocorrido em Sydney, naquilo que a acusação considera ter sido uma tentativa de desculpar Rubiales.
Nas alegações finais, o Ministério Público manteve o pedido de dois anos e meio de prisão para o antigo presidente da RFEF.
"Foi um beijo não consentido. Penso que, após o exame, não há dúvida nenhuma", disse a procuradora Marta Durántez Gil, que destacou a "total coerência" de Jenni Hermoso entre o que contou e o seu comportamento "imediato e posterior", e condenando que, em 2025, se continue a questionar "vítimas de agressão sexual" por celebrarem ou se rirem, numa referência aos vídeos da celebração da vitória de Espanha no Mundial de 2023, na Austrália.
E acrescentou: "Ela tinha sentimentos contraditórios, queria passar despercebida, que tudo isto não se reduzisse a um beijo não consentido, mas ao triunfo da seleção espanhola. Será que ela é menos vítima por isso?".
Já a defesa de Luis Rubiales pediu a absolvição do ex-presidente da RFEF, admitindo que pode ter tido um comportamento inadequado, mas nunca criminoso.
"Não podemos confundir o pecado e o delito, ou seja, o social e moralmente reprovável com o penalmente condenável", disse a advogada de Rubiales nas alegações finais do julgamento.
A advogada Olga Tabau Martínez considerou que ficou provado que Jenni Hermoso deu consentimento a Luis Rubiales para a beijar e que, apesar de nos mesmos vídeos a jogadora comentar com as colegas de seleção que não gostou do beijo, isso "não é incompatível com tê-lo consentido".
"Pode não ter gostado do próprio contacto físico nesse palco ou a repercussão imediata que o beijo teve em Espanha e noutras partes do mundo (...), mas isso não invalida o consentimento, nem transforma essa conduta [de Rubiales] num delito", acrescentou a advogada, que realçou ainda a atitude de celebração e a alegria que mostrava Jenni Hermoso nas imagens após o beijo.
Quanto ao advogado que representa Jenni Hermoso considerou, nas alegações finais, que Luis Rubiales nunca deveria ter beijado a jogadora, mesmo que lhe tivesse pedido consentimento, atendendo à sua superioridade hierárquica.
"Não estamos perante um consentimento, estamos perante uma subjugação", disse o advogado Ángel Chavarría, que disse não haver qualquer prova de que Jenni Hermoso tenha concordado com o beijo e que a jogadora, a quem Rubiales agarrou a cabeça, "não tinha possibilidade de escapar".
O causídico defendeu que Rubiales "nunca deveria ter-lhe pedido o consentimento, nem isso lhe deveria ter passado pela cabeça" em relação "a uma pessoa que hierarquicamente estava numa posição inferior e sob as suas instruções".
Tanto Ángel Chavarría como a advogada da Associação de Futebolistas Espanhóis, que se constituiu como acusação popular neste processo, consideraram que há razões para condenar Rubiales pelo beijo a Jenni Hermoso e por coerções, por pressões posteriores à jogadora.
Para a advogada da associação, Rubiales ativou mesmo "toda a estrutura federativa", com "reuniões de crise" para "salvar o senhor presidente".
As defesas dos restantes acusados fizeram hoje as alegações finais, com todos a pedirem a absolvição dos seus clientes, considerando que as conversas relatadas pelas diversas testemunhas, mesmo que sejam reais, não podem ser consideradas formas de coerção sobre Jenni Hermoso ou os seus familiares.
"Pedir não é intimidar, pedir é pedir", afirmou o advogado do então selecionador feminino Jorge Vilda, que considerou não ter havido qualquer tipo de coerção, um delito que, sublinhou, implica "violência e intimidação".
Rubiales deixou a presidência da RFEF em 10 de setembro de 2023 na sequência deste caso e, semanas mais tarde, em 30 de outubro, a FIFA suspendeu-o de todas as atividades relacionadas com futebol.