Analistas antecipam mais inflação e impacto no crescimento europeu

A invasão da Ucrânia pela Rússia deverá continuar a fazer cair os mercados acionistas e ter também impacto no crescimento da economia europeia, desde logo agravando a já alta inflação pelos custos energéticos, segundo analistas contactados pela Lusa.

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Lusa
24/02/2022 17:23 ‧ 24/02/2022 por Lusa

Economia

Guerra na Ucrânia

"Pode afetar as perspetivas económicas europeias. A implicação maior para economia europeia é a questão da inflação, com os custos da energia e gás a levarem a um agravamento num cenário de inflação já acima de 5%", disse à Lusa o economista-chefe do Banco Big, João Lampreia.

A Rússia é um importante operador do mercado energético, sobretudo para a Europa, e hoje o preço do barril de petróleo Brent já ultrapassou a barreira dos 100 dólares no mercado de futuros de Londres (pela primeira vez desde 2014). Analistas apontam mesmo que possa chegar a 120 ou 140 dólares.

João Lampreia considera ainda que, apesar dos impactos económicos que se perspetivam, tal não deverá demover os bancos centrais (Reserva Federal dos Estados Unidos e Banco Central Europeu - BCE) dos seus planos de normalização da política monetária.

"Não antecipo que Fed e BCE venham agora dizer 'não vamos subir taxas'", afirmou, considerando que a perspetiva de agravamento da inflação é mais um motivo para manterem os seus planos.

Contudo, avisa, isto tem impactos no crescimento, no agravamento dos custos de financiamento da economia, entre outros.

Sobre as quedas nos índices de ações, João Lampreia disse que esta madrugada quando soube do ataque da Rússia à Ucrânia achava que as quedas seriam ainda maiores, mas também considera que o mercado ainda deverá continuar a ceder nos próximos tempos e que na Europa será mais penalizado do que nos Estados Unidos.

As principais bolsas europeias reagiram à invasão russa da Ucrânia com fortes descidas. Milão caiu 4,10%, Frankfurt 3,96%, Paris 3,83%, Londres 3,82% e Madrid 2,86%.

A bolsa de Lisboa encerrou com o índice PSI20 a descer 1,52% para 5.348,28 pontos.

Pelas 16:40 (hora de Lisboa), nos Estados Unidos, o Dow Jones recuava 1,92% e o índice Nasdaq 0,27%. O índice alargado S&P 500 registava uma queda de 0,88%.

João Lampreia avisa ainda que as quedas que os mercados registam desde que bateram máximos não têm só que ver com questões geopolíticas, mas também com a retirada de apoio dos bancos centrais e os receios relacionados com inflação e até com estagflação.

Já segundo analistas da corretora XTB, "os principais mercados bolsistas mundiais estão a sofrer um duro golpe durante a sessão de hoje e, em muitos casos, os índices estão a testar mínimos de 2020", ainda que também considerem que grande parte destas quedas têm sido causadas pela postura mais restritiva por parte do Reserva Federal norte-americana, pois "apanhou muitos investidores de surpresa".

Ainda segundo a XTB, o atual contexto poderá provocar um aumento da inflação, pois "os períodos de guerra tendem a provocar aumentos significativos" dos preços.

"Os preços de quase todas as 'commodities' estão a valorizar, sobretudo as energéticas. No entanto, no caso de outras 'commodities', muito dependerá do impacto logístico do conflito. Tenha em mente que as cadeias de distribuição ainda não recuperaram do impacto do covid-19 e as atuais tensões poderão agravar ainda mais a situação", referem os analistas da XTB.

Se na crise da pandemia da covid-19 o pânico dos mercados durou pouco tempo devido às medidas de apoio às economias tomadas pelos bancos centrais, agora a XTB considera que a situação é diferente, pois "o conflito poderá provocar ainda mais inflação e poderá ter impacto significativo no lado da oferta e da logística".

"A inflação torna-se um problema ainda maior para os grandes bancos centrais. Por outro lado, a condução das políticas monetárias mais restritivas só deverá aumentar a turbulência no mercado", refere a XTB.

Numa análise hoje divulgada pela AllianzGi, o diretor de investimentos, Gregor Hirt, considera que, perante o conflito, os investidores devem adotar "uma posição ainda mais cautelosa nos ativos de risco", pois - apesar de não se saber até onde vai escalar -- já se sabe que "as implicações vão ser amplas para os mercados", com aumento dos preços das matérias-primas e como consequência o aumento da inflação, que já está alta, "com implicações para o crescimento e potencialmente para a política monetária".

Assim, considera, que pode haver uma redução a exposições a ativos de risco (caso das ações) após anos de "desempenho sólido" destes ativos.

Para a gestora de ativos Schroders, os investidores sentirão o impacto, ainda que ressalve que, mesmo que as consequências sejam negativas, o grande drama será humanitário e nas milhões de vida em risco, e considera que é importante ver como passará o primeiro fim de semana após a invasão.

Com a invasão da Ucrânia, diz, há a aproximação a um "pico da incerteza", sendo que o atingir do pico dependerá da forma como o conflito avance e de uma eventual intervenção militar do Ocidente.

Para a Schroders, a região da "Europa, em particular, é indiscutivelmente a mais exposta ao impacto do que se está a passar", desde logo pela dependência da energia russa.

"Além do impacto do risco geopolítico nos prémios de risco, o principal mecanismo de transmissão económica é através dos preços da energia. Isto coloca desafios particulares à Europa, dada a sua dependência da energia russa. Isto tem implicações prejudiciais para o crescimento e complica o quadro para o Banco Central Europeu", refere a Schroders.

Leia Também: Indicador diário de atividade "em linha" com o das semanas anteriores

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