Covid-19. Sermão do grande ayatollah Al-Sistani cancelado no Iraque

Os representantes do grande 'ayatollah' Ali al-Sistani, figura tutelar no Iraque, não proferiram hoje o sermão de sexta-feira [dia principal da religião muçulmana] por causa da epidemia do novo coronavírus, divulgaram hoje as autoridades iraquianas xiitas.

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Lusa
06/03/2020 14:02 ‧ 06/03/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

Trata-se da primeira vez que esta situação ocorre desde a queda do regime de Saddam Hussein em 2003, ou seja, há 17 anos.

Por causa dos receios relacionados com a propagação do surto de Covid-19 no Iraque -- país que já contabiliza três mortos e 38 casos de infeção -- as autoridades religiosas da cidade santa xiita de Karbala (sul) anunciaram o encerramento da mesquita local, onde o sermão do grande 'ayatollah' é habitualmente proferido.

Apesar do local de culto estar encerrado, a área circundante, onde estão localizados os dois mausoléus de Karbala, incluindo o do neto do profeta Maomé (imã Hussein), estava aberta aos crentes, segundo constataram no local jornalistas da agência France Presse (AFP), que descreveram que muitas pessoas estavam na zona.

Entretanto, as autoridades de Karbala decidiram decretar, a partir de hoje, a proibição de entrada naquela província a qualquer pessoa que não seja residente.

O grande 'ayatollah' Ali al-Sistani, a mais alta autoridade religiosa para milhões de xiitas no mundo, vive em Najaf, a outra grande cidade santa xiita no Iraque, e nunca aparece em público.

No entanto, às sextas-feiras, dois representantes do líder religioso proferem o seu sermão, normalmente transmitido em direto pela televisão estatal.

"O cancelamento da oração de sexta-feira no mausoléu do imã Hussein acontece pela primeira vez desde 2003", referiu, em declarações à AFP, um responsável pelo local sagrado.

Fontes próximas do grande 'ayatollah' confirmaram o caráter inédito desta decisão em quase duas décadas.

Nos últimos dois sermões, o grande 'ayatollah' Ali al-Sistani focou o estado do sistema de saúde no Iraque, país com 40 milhões de habitantes que enfrenta uma escassez crónica de médicos, medicamentos e hospitais.

Em Samarra, outro local sagrado xiita a norte da capital iraquiana (Bagdad), as autoridades religiosas anunciaram esta semana o cancelamento de uma peregrinação, medida que já tinha acontecido no final de fevereiro.

O Iraque está particularmente preocupado com a propagação do novo coronavírus, em parte por causa dos gestos de devoção praticados pelos milhões de fiéis do vizinho Irão que entram anualmente no país e visitam os locais sagrados.

Por exemplo, segundo a tradição muçulmana, os fiéis beijam os portões que cercam os túmulos dos imãs.

No vizinho Irão, um dos principais focos da epidemia, o surto de Covid-19, o nome atribuído pela Organização Mundial Saúde (OMS) à doença provocada pelo novo coronavírus, já fez 124 mortos e infetou 4.747 pessoas.

O surto de Covid-19, detetado pela primeira vez em dezembro na China, e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou, até à data, 3.385 mortos e infetou mais de 98 mil pessoas em 87 países e territórios, incluindo nove em Portugal.

Das pessoas infetadas, mais de 55 mil recuperaram.

Além de 3.042 mortos na China, há registo de vítimas mortais no Irão, Itália, Coreia do Sul, Japão, França, Hong Kong, Taiwan, Austrália, Tailândia, Estados Unidos da América e Filipinas, Sãon Marino, Iraque, Suíça, Espanha, Reino Unido e Países Baixos.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou nove casos de infeção.

A OMS declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional e aumentou o risco para "muito elevado".

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