O Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, da UNESCO, aprovou na terça-feira a classificação do 'tais' de Timor-Leste como Património Cultural Imaterial em necessidade de salvaguarda urgente, bem como a proposta de assistência financeira.
A decisão do comité representa a primeira classificação como Património Cultural Imaterial de Timor-Leste.
Numa cerimónia hoje em Díli, Taur Matan Ruak manifestou "grande satisfação e orgulho" com a classificação e disse tratar-se de "um dia histórico para o povo, para a cultura e para a nação timorense", que assim vê reconhecida "uma tradição cultural milenar, passada de geração em geração, símbolo dos costumes ancestrais mais profundos" da identidade nacional de Timor-Leste.
Segundo o discurso do primeiro-ministro, a que a Lusa teve acesso, o 'tais' é um "pano tradicional produzido com desenhos, motivos, cores e técnicas correspondentes a cada grupo etnolinguístico e presente em cada aldeia, suco, posto administrativo, município e região do país, constituindo uma riqueza ímpar e unificadora".
O pano, que antigamente trajava os guerreiros timorenses, tornou-se "um precioso objeto com múltiplas funções artesanais, cerimoniais, culturais, decorativas e económicas", disse o chefe do Governo, lembrando tratar-se de um pano "amigo do ambiente, que utiliza equipamentos simples, técnicas acessíveis e matérias-primas e artesãos exclusivamente nacionais".
O 'tais', sublinhou Taur Matan Ruak, promove a inclusão social e os seus artesãos, na grande maioria mulheres, veem recompensado o seu labor com "uma preciosa fonte sustentável de rendimento e de bem-estar".
Com este reconhecimento internacional, continuou, o 'tais' ganha "um novo fôlego, capaz de encorajar a participação da juventude e dos operadores nacionais no movimento de inovação e de empreendedorismo para a criação de novos produtos", no momento em que o país aposta no turismo e na indústria para promover a diversificação da economia.
"Estou muito satisfeito pela oportunidade que esta cerimónia pública proporciona para a divulgação da importância deste património histórico e para a promoção do potencial que este artigo tradicional possui, junto dos diferentes mercados nacionais e internacionais, melhorando a nossa oferta e dinamizando as nossas exportações", afirmou o primeiro-ministro.
Taur Matan Ruak agradeceu a todos os que participaram na candidatura do 'tais' a património imaterial, assim como a todas as tecelãs e tecelões "pela habilidade, pela capacidade, pelo conhecimento e pela compreensão dos significados simbólicos, religiosos e culturais" associadas à sua produção.
"Muito obrigado a todos por ajudarem o Estado e a nação timorense a materializar, da melhor forma possível, os direitos e as liberdades de expressão cultural e artística", que impelem o país "a continuar a preservar e salvaguardar as tradições e os costumes tradicionais timorenses como património do país e como fonte sustentável de bem-estar social e de riqueza económica", disse ainda o primeiro-ministro, concluindo o seu discurso com um "parabéns ao 'tais' de Timor-Leste!"
De acordo com a decisão da UNESCO, o projeto aprovado na semana passada tem a duração de três anos e inclui atividades como a promoção do 'tais' em feiras, a criação de um programa televisivo e o acrescento deste elemento aos currículos escolares.
Ao nível da investigação, o projeto implica o recrutamento de um perito para trabalho de campo, que documente e fotografe as matérias-primas usadas e os produtos de 'tais' nos mercados e nas comunidades locais.
Os documentos de nomeação, preparados por Timor-Leste, notam que o 'tais' é um património cultural que tem sido passado dos ancestrais, de geração em geração e assume "um papel importante na vida do povo timorense, desde o seu nascimento até à morte", com as peças a serem usadas para receber convidados, para mostrar a identidade cultural e classe social, variando em estilo e cores de região para região do país.
O 'tais' é tradicionalmente feito de algodão, tingido com plantas naturais, sendo normalmente tecido por mulheres, de forma manual, usando equipamentos simples como a 'atis', o 'kida', e outros.
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