A nível federal, as autoridades norte-americanas ainda não se pronunciaram sobre o início do processo de acolhimento, nomeadamente sobre a questão dos vistos, mas grupos de cidadãos ucranianos residentes nos Estados Unidos já estão a prestar apoio a pessoas que chegam da Ucrânia através de outros canais.
"Nenhum refugiado espera que estejas preparado", disse à Associated Press Eduard Kislyanka, pastor da congregação House of Bread, perto de Sacramento, Califórnia, que tem enviado equipas para a Polónia onde localiza cidadãos ucranianos com familiares residentes nos Estados Unidos.
No total, estima-se que mais de quatro milhões de pessoas fugiram da Ucrânia após a invasão russa no final do mês de fevereiro e que milhões de cidadãos são deslocados internos no país em guerra.
O presidente norte-americano, Joe Biden, disse na semana passada que os Estados Unidos admitem receber 100 mil refugiados ucranianos tendo já colaborado com mil milhões de dólares destinados à assistência humanitária aos países do leste europeu afetados pelo êxodo.
O governo federal ainda não estabeleceu prazos e calendários para o processo de acolhimento, geralmente lento nos Estados Unidos.
De acordo com a Associated Press não é provável que os Estados Unidos venham a promover a entrada de refugiados da Ucrânia através de voos fretados ou de aviões militares como aconteceu no verão passado com os cidadãos afegãos, após a tomada de Cabul pelas forças talibã.
Kris O'Mara Vignarajah, presidente do Serviço para Imigrantes e Refugiados Luteranos disse à Associated Press (AP) que os Estados Unidos ainda não definiram "um número mínimo" referente à receção de ucranianos no país.
A responsável pela organização religiosa diz ainda que muitas pessoas estão a entrar nos Estados Unidos através da fronteira com o México e que a maior parte procura locais onde já está estabelecida uma forte comunidade ucraniana.
Com mais de 18 mil cidadãos de origem ucraniana a região de Sacramento contabiliza a maior concentração de imigrantes da Ucrânia dos Estados Unidos, de acordo com dados do censo organizado pelo Migration Policy Institute.
As cidades de Seattle, Chicago e Nova Iorque são outras cidades onde já existe uma concentração de cidadãos da Ucrânia.
Sacramento tem sido o destino de muitos ucranianos desde o final dos anos 1980 e início da década de 1990 sendo que a maior parte são cristãos que beneficiaram da legislação norte-americana sobre proteção religiosa e que fugiam de perseguições na antiga União Soviética.
A outra vaga de refugiados começou quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 2014.
Mais de oito mil ucranianos foram na altura apoiados pela organização World Relief que ajudou ao estabelecimento de três mil pessoas que foram viver para Sacramento.
Na mesma região já existem dezenas de igrejas eslavas e muitas escolas estão preparadas para acolherem estudantes ucranianos e russos tal como acontece em Seattle, Estado de Washington.
A delegação de Sacramento do International Rescue Comittee (IRC) presta, sobretudo, apoio a pessoas que entram nos Estados Unidos ilegalmente.
Lisa Welze, responsável pelo IRC em Sacramento disse à Associated Presse que muitas pessoas se mostram relutantes nas ligações com os organismos de acolhimento mas a necessidade de encontrarem meios legais facilitam os contactos.
De acordo com Welze, os cidadãos da Ucrânia que chegam ao país sem estatuto de refugiado, com vistos turísticos, mostram-se impacientes quanto ao início do "processo formal".
"Nós dizemos-lhes que temos de esperar", explica Lisa Welze.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.179 civis, incluindo 104 crianças, e feriu 1.860, entre os quais 134 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,9 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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