Amnistia condena envio pela Turquia de caso Khashoggi para Arábia Saudita
A Amnistia Internacional condenou hoje a intenção da Turquia de transferir para a Arábia Saudita o processo do caso de Jamal Khashoggi, jornalista saudita assassinado em Istambul em 2018.
© MOHAMMED AL-SHAIKH/AFP via Getty Images
Mundo Khashoggi
"Hoje é um dia sombrio para aqueles que passaram mais de três anos a fazer campanha por justiça para o assassínio de Jamal Khashoggi. Ao transferir o caso (...), a Turquia está a pô-lo consciente e voluntariamente nas mãos daqueles que por ele são responsáveis", reagiu a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, em comunicado.
O ministro da Justiça turco, Bekir Dozdag, anunciou hoje que iria emitir um parecer positivo sobre a transferência do processo para a Arábia Saudita, pedido na quinta-feira pelo procurador de Istambul, que disse querer "encerrar" o caso.
Segundo a agência noticiosa privada DHA, o procurador do ministério público turco argumentou que "o caso se arrasta, porque as ordens do tribunal não podem ser executadas pelo facto de os acusados serem cidadãos estrangeiros".
"A Arábia Saudita recusou-se várias vezes a cooperar com o procurador turco e é claro que não pode ser feita justiça por um tribunal saudita", considerou a Amnistia.
O assassínio de Jamal Khashoggi, morto e desmembrado no interior do consulado saudita em Istambul em 2018, envenena as relações entre as duas potências regionais.
Mas, a braços com uma crise económica e a mais alta inflação dos últimos 20 anos (quase 55% nos últimos 12 meses), a Turquia tenta desde há vários meses uma aproximação a Riad.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou no início de janeiro que faria em breve uma visita à Arábia Saudita, mas esta não se realizou até agora.
Numa entrevista televisiva, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlüt Çavusoglu, admitiu na quinta-feira: "Estão em curso etapas importantes para a normalização das relações [com a Arábia Saudita]".
"A cooperação judicial atingiu um nível melhor", acrescentou.
Numa entrevista concedida no final de fevereiro à agência noticiosa francesa AFP, a namorada de Jamal Khashoggi, Hatice Cengiz, exortou a Turquia a "insistir para que fosse feita justiça" e a não desistir em prol de uma aproximação a Riad.
O julgamento à revelia de 26 cidadãos sauditas acusados pela Turquia de envolvimento no assassínio do jornalista Jamal Khashoggi iniciou-se em julho de 2020, estando a próxima audiência agendada para 07 de abril.
O jornalista saudita de 59 anos, crítico do poder da família real saudita e colaborador do diário norte-americano Washington Post, foi assassinado e desmembrado a 02 de outubro de 2018, dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, onde se deslocou para obter um documento, segundo as autoridades turcas.
Os seus restos mortais nunca foram encontrados.
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