Meloni, 45 anos, reivindicou a vitória nas legislativas antecipadas de domingo, em que a coligação de direita e extrema-direita, que inclui o FdI e os partidos liderados por Matteo Salvini (Liga) e Silvio Berlusconi (Força Itália), deverá conseguir uma maioria para formar governo.
De acordo com resultados parciais divulgados ao princípio da tarde pelo jornal italiano La Reppublica, o partido de Salvini tinha 8,9% dos votos (13% em 2018) e o de Berlusconi 8,3% (14% em 2018), contra 26% do partido de Meloni.
"Normalmente, a instabilidade vem do seio das coligações, mas os maus resultados de Salvini e Berlusconi poderão significar estabilidade para Meloni", disse Fabrizio Tassinari à Lusa, num contacto telefónico a partir de Lisboa.
Tassinari, que é diretor executivo da Escola de Governação Transnacional do Instituto Universitário Europeu de Florença, admitiu também que a fragilidade dos principais parceiros de Meloni poderá resultar numa "posição forte" do novo executivo sobre a guerra na Ucrânia.
"Meloni é muito clara no apoio à Ucrânia", disse.
Em comparação, "Salvini e Berlusconi têm sido muito ambíguos" em relação à guerra iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro deste ano.
Salvini e Berlusconi "agora, estão fracos", disse.
O cientista político atribuiu os resultados das eleições de domingo a uma componente de voto de protesto que tem sido consistente desde pelo menos a crise financeira de 2013.
Disse que o partido agora beneficiado é o de Meloni, depois de em eleições anteriores o voto de protesto ter sido favorável ao Movimento Cinco Estrelas, que esteve no poder nos últimos cinco anos, tal como a Liga de Salvini.
Tassinari atribuiu também a vitória de Meloni a posições radicais sobre questões como a migração, dado que Itália tem sido um dos principais países de entrada na UE para sucessivas vagas de migrantes.
Muitos italianos têm acusado a UE de falta de solidariedade, um descontentamento a que o FdI deu eco.
"Receio que, naturalmente, haja também um forte segmento da população que concorda com isso [críticas à UE na questão da migração]", disse.
Tassinari mostrou-se preocupado com "algumas das posições políticas" de Meloni em relação à UE e às instituições europeias, que disse serem "muito radicais, conservadoras e nacionalistas".
Destacou a narrativa sobre a soberania perdida para a UE e a ideia de "a Itália primeiro".
"E é esse o problema que mais me preocupa", admitiu o diretor executivo da escola do Instituto Universitário Europeu.
Tassinari considerou, no entanto, que Meloni terá de compreender que muitos dos problemas em Itália não poderão ser resolvidos "simplesmente gritando com Bruxelas".
Deu como exemplo o pacote de recuperação económica da UE para ajudar os Estados-membros a recuperar da crise da pandemia de covid-19, entretanto agravada com a guerra na Ucrânia.
Meloni "terá de ser bastante pragmática", defendeu o cientista político italiano.
Para Tassinari, as reações à vitória da coligação liderada por Meloni serão idênticas às manifestadas nas últimas semanas, perante as sondagens que indicavam o resultado que se está a verificar.
"Preocupação, devido às perspetivas do próximo governo e à incerteza sobre a natureza do mesmo", disse.
"Mas, claro, também realismo, considerando a força das instituições italianas, bem como os constrangimentos que tem na União Europeia", acrescentou.
O partido de Meloni foi formado em 2012, e tem raízes no Movimento Social Italiano (MSI), fundado por seguidores do ditador fascista Benito Mussolini (1883-1945).
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