"Preparamo-nos para a segunda cimeira Rússia-África, em julho, em São Petersburgo e esperamos uma comitiva representativa de Moçambique, liderada pelo Presidente Nyusi. Além da agenda, haverá um encontro bilateral entre o Presidente Putin e o Presidente Nyusi", referiu Lavrov durante uma conferência de imprensa, em Maputo.
O chefe da diplomacia russa falava após ter sido recebido no Palácio da Presidência, em Maputo, por Filipe Nyusi, num encontro em que foi anunciado um reforço da cooperação bilateral, incluindo a retoma da cooperação técnico-militar, que tinha sido suspensa por causa da pandemia de covid-19.
Do lado moçambicano, Carlos Mesquita, ministro das Obras Públicas que acompanhou Lavrov ao longo da visita a Maputo, não se pronunciou sobre o convite a Nyusi, mas reiterou a vontade de Maputo retomar a cooperação tal como definida após a visita do chefe de Estado moçambicano à Rússia, em 2019.
A visita de Sergei Lavrov, "é a demonstração inequívoca do interesse comum de levar por diante tudo o que foi acordado", disse Mesquita, sublinhando que "equipas técnicas estão a rever todos os memorandos e acordos", e acrescentando: "Daqui a mês e meio, na cimeira [em São Petersburgo] vamos ter oportunidade de eventualmente assinar novos acordos".
A visita de Lavrov a Maputo (a terceira, depois de 2013 e 2018) acontece cinco dias depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, ter visitado a capital moçambicana, com idênticos compromissos de reforço de cooperação bilateral e um convite para Nyusi visitar Kiev.
Moçambique reiterou uma posição de neutralidade face ao conflito na Ucrânia e voltou a apelar a um "diálogo direto entre as partes como a via mais segura para pôr fim à guerra e para o retorno a uma coexistência pacifica entre países irmãos", disse Mesquita, ao resumir o encontro de Nyusi com Lavrov.
Sobre a neutralidade de Moçambique, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo disse apreciar o facto de "Moçambique ter a sua própria posição", acusando os países ocidentais de tentarem impor uma agenda a África para "não fazer comércio, não dialogar", nem expandir relações com a Rússia.
"É o 'não' que domina", disse, comparando a posição "arrogante" a uma forma de "neocolonialismo" que África rejeita, apontou Lavrov.
"Os amigos moçambicanos ouvem e decidem eles próprios, não cedendo a chantagens", afirmou, considerando que o que está em causa para a Rússia é uma ameaça às suas fronteiras idêntica à que representou a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial.
Segundo Lavrov, "certos países cedem na votação, mas ao mesmo tempo decidem por si não aceitar qualquer tipo de sanções", numa alusão aos votos nas Nações Unidas de condenação da invasão russa.
"Ao mesmo tempo, esses países continuam a cooperar connosco para encontrar as vias possíveis de incremento das nossas relações, apesar das dificuldades impostas pelas sanções ilegítimas e que estão a contrariar os princípios proclamados pelos ocidentais para o mundo globalizado", resumiu.
No que diz respeito diretamente a Moçambique, Sergei Lavrov referiu que a Rússia "continuará a prestar assistência alimentar e nos próximos dias um novo carregamento chegará ao porto de Nacala".
O reforço da cooperação bilateral ambiciona abranger quase todos os domínios, incluindo a área militar.
"Concordámos também em reativar a comissão para a cooperação técnico-militar que durante cinco anos esteve em pausa devido à pandemia de covid-19", anunciou Sergei Lavrov.
A Rússia está "disposta a fornecer equipamentos aos amigos moçambicanos, tanto para reforço da segurança do país, como para combate antiterrorista", frisou, especificamente, numa alusão aos ataques insurgentes em Cabo Delgado.
Ao nível económico, há várias empresas russas interessadas no mercado moçambicano, apontou, citando a Kamaz, fabricante de veículos pesados, assim como outras ligadas à eletricidade e construção de gasodutos.
"Estamos a estudar as possibilidades de entrada dos nossos empresários em vários projetos em Moçambique", notou.
Também na área da educação foi expressa a intenção de estreitar relações, pois a Rússia duplicou as bolsas para alunos moçambicanos nos últimos anos: "E esperamos no próximo ano letivo aumentar ainda mais".
Um novo memorando ao nível da formação técnico-profissional "está a ser finalizado", concluiu.
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, 8.895 civis mortos e 15.117 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
[Notícia atualizada às 15h25]
Leia Também: Lavrov saúda neutralidade do Burundi em relação à guerra na Ucrânia