"O uso do direito de veto é uma ferramenta legítima estipulada na Carta das Nações Unidas", disse o chefe da diplomacia russa perante o Conselho de Segurança, depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter apelado a que Moscovo fosse privado desse poder.
Lavrov defendeu o direito de veto - detido apenas pela Rússia, Estados Unidos, China, França e Reino Unido - num dia em que também os dez membros não permanentes do Conselho de Segurança pediram que esse poder seja restringido.
O russo, com quase vinte anos à frente da diplomacia do seu país, acusou os Estados Unidos e seus aliados de "tentarem abertamente e sem subterfúgios privatizar o Secretariado (Geral) da ONU (porque acreditam) que têm o direito de acusar aqueles que por uma razão ou outra são inconvenientes para Washington".
Lavrov referiu-se longamente à guerra na Ucrânia, limitando-se a repetir os argumentos de que o Governo de Zelensky discrimina e maltrata os falantes de russo nas áreas orientais.
O chefe da diplomacia russa terminou o seu discurso com palavras favoráveis aos países em desenvolvimento - muitos deles emergentes de golpes de Estado - que estão sujeitos a sanções do Conselho de Segurança.
"As limitações humanitárias às sanções devem ser consideradas, pois devem ser acompanhadas por considerações das agências da ONU sobre as suas consequências humanitárias, em vez de serem acompanhadas por exortações demagógicas de colegas ocidentais. É tão simples quanto isto: que as pessoas comuns não sofram", disse.
Embora não tenha mencionado nenhum Estado em particular, muitos dos países sujeitos a sanções são aliados de Moscovo, como a Síria, o Irão, a Coreia do Norte, Cuba, Venezuela ou Mali.
Do outro lado da mesa estava o embaixador ucraniano, Sergíy Kyslytsya, com os olhos postos no telefone durante pelo menos algumas partes dos comentários de Lavrov, enquanto Blinken, por sua vez, chegou a fazer anotações manuscritas.
Numa reunião em que se antevia um possível confronto entre Zelensky e Lavrov, os dois líderes acabaram por não se cruzar, com o chefe de Estado a abandonar a sala antes de o ministro russo se pronunciar - num movimento que já era esperado por analistas que falaram com a Lusa.
Na reunião do Conselho de Segurança, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, acusou a Rússia de cometer frequentemente "crimes contra a humanidade" na Ucrânia, que invadiu em fevereiro de 2022.
"A Rússia comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Ucrânia quase diariamente", disse Blinken ao Conselho de Segurança da ONU, pouco depois da intervenção de Zelensky.
Antony Blinken atacou ainda a proximidade entre a Rússia e a Coreia do Norte, e alertou para um possível apoio militar de Pyongyang à Rússia face à guerra na Ucrânia.
O norte-americano referia-se a uma reunião da semana passada entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, a quem chamou de "ditador".
"Putin disse que discutiram formas de cooperar militarmente e Kim expressou o seu apoio incondicional à Rússia na guerra. Um carregamento de armas entre Moscovo e Pyongyang violaria múltiplas resoluções deste Conselho", frisou.
Blinken disse que é "difícil encontrar um país que despreze mais os princípios das Nações Unidas" do que a Rússia, acusando Moscovo de ter violado os princípios de soberania e integridade territorial com a invasão da Ucrânia.
[Notícia atualizada às 20h20]
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