Exército e milícias do Sudão trocam acusações sobre ataque a central

As partes em conflito no Sudão acusaram-se hoje, mutuamente, de desrespeito pelos direitos humanos devido a um ataque, ocorrido no fim de semana, a uma central térmica nos arredores da capital, Cartum, que provocou um incêndio.

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Lusa
24/06/2024 14:18 ‧ 24/06/2024 por Lusa

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Sudão

A central, que tem uma capacidade de produção de 470 megawatts na central térmica e 450 megawatts na central elétrica, foi encerrada uma semana após o início da guerra, em 15 de abril de 2023, quando as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) tomaram o controlo de Bahri.

Segundo um comunicado dos paramilitares RSF, publicado na rede social X (antigo Twitter), "prosseguindo a sua ruinosa campanha de destruição, os batalhões do Movimento Islâmico extremista, aliados às Forças Armadas sudanesas, bombardearam a central térmica de Bahri, causando danos consideráveis".

"Este ataque deliberado foi perpetrado contra infraestruturas vitais, desafiando o direito internacional e os princípios éticos", declararam as RSF, afirmando que o incidente "reflete o desespero e a frustração" das forças armadas e "dos aliados terroristas do Movimento Islâmico" face às suas "derrotas" no campo de batalha.

Os paramilitares declararam ainda que condenam estes "atos de terrorismo" e apelam "às organizações internacionais e regionais para que denunciem os crimes horríveis cometidos pelo Movimento Islâmico e pelos seus aliados no seio das Forças Armadas".

"Estas ações têm como objetivo deslocar à força a população e privá-la de serviços essenciais", afirmaram.

Por fim, disseram ainda que os seus membros "estão empenhados em acabar com esta guerra" e que lutam pela paz, "pela estabilidade e para reconstruir o Sudão sobre novas e justas bases".

O incêndio da central térmica destruiu completamente as suas instalações, segundo a estação de rádio sudanesa Radio Dabanga.

Todavia, o exército sudanês já reagiu às incriminações das RSF, que acusou de ter um "padrão terrorista contra o país e civis", e declarou que imagens foram manipuladas pela "milícia terrorista".

As forças militares sudanesas distanciaram-se assim dos vídeos publicados nas redes sociais em que se veem alegados militares a executar vários prisioneiros.

"A execução de prisioneiros de guerra em Al Fula - a capital do Cordofão Ocidental, que foi tomada pelos paramilitares na sexta-feira - e a destruição da central térmica de Bahri são apenas alguns exemplos do conhecido padrão terrorista", declarou o exército.

"As Forças Armadas querem sublinhar que não se deixarão arrastar para o mesmo nível imoral a que chegaram as milícias e manter-se-ão firmes no respeito pelo direito humanitário internacional", acrescentou o exército.

Assim, pediram aos civis que não acreditem nos vídeos publicados pelas RSF e reiteraram que essas práticas "não podem ser levadas a cabo por membros das Forças Armadas, que têm respeitado o direito internacional ao longo da sua história", segundo a agência noticiosa estatal sudanesa SUNA.

A guerra civil no Sudão eclodiu devido a fortes divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar - agora declarado organização terrorista - nas Forças Armadas, uma situação que provocou o descarrilamento definitivo da transição aberta em 2019 após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir.

O conflito interno já matou pelo menos 30.000 pessoas, segundo a União Médica Sudanesa, e deslocou mais de dez milhões de pessoas, interna e externamente, causando a pior vaga de deslocações do mundo.

Leia Também: Pelo menos 3 mortos em ataque a hospital apoiado pela MSF perto de Cartum

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