"O inimigo tentou atingir a central nuclear durante a noite", disse o Presidente russo durante uma reunião transmitida na televisão com membros do seu executivo e governadores das regiões fronteiriças da Ucrânia, mas sem detalhes.
Em reação, Kyiv rejeitou a acusação de Putin, comentando que "o cenário desejado pela Rússia, segundo o qual as Forças Armadas da Ucrânia atacariam a Central Nuclear de Kursk para as acusar de terrorismo nuclear, não se sustenta".
Citado pelo jornal Kyiv Independent, o chefe do departamento de combate à desinformação do Conselho Nacional de Segurança Nacional e Defesa, Andrí Kovalenko, devolveu a acusação a Moscovo, ao referir que "tudo aponta para que a Rússia possa levar a cabo esta provocação sozinha" para acusar a Ucrânia perante a opinião pública internacional.
Um porta-voz da Agência Internacional de Energia Atómica anunciou hoje à agência France Presse (AFP) que o seu diretor-geral, Rafael Grossi, vai visitar na próxima semana a central nuclear de Kursk, situada a cerca de 50 quilómetros da área onde soldados russos e ucranianos estão em confronto.
No entanto, a AIEA não mencionou qualquer tentativa de ataque ucraniano ao local das instalações nucleares nem foram divulgadas imagens sobre a alegada ofensiva.
Há vários dias que Moscovo levanta a ameaça de uma catástrofe nuclear em caso de ataque do Exército ucraniano à central nuclear, sem adiantar mais pormenores.
A AIEA, por seu lado, apelou para a "máxima contenção" em torno do local "a fim de evitar um acidente nuclear suscetível de ter graves consequências radiológicas", devido aos combates que se têm travado em Kursk desde o lançamento de uma grande ofensiva do Exército de Kyiv no início do mês.
Rafael Grossi disse estar "em contacto pessoal com as autoridades competentes dos dois países".
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, a AIEA tem alertado regularmente para o risco de um acidente nuclear, especialmente na grande central de Zaporijia, ocupada desde março de 2022 pelos russos.
Atualmente paralisada, a unidade tem sido alvo de repetidos ataques, pelos quais a Rússia e a Ucrânia se responsabilizam mutuamente.
Desde 06 de agosto, as forças ucranianas entraram na região fronteiriça de Kursk, onde reclamam o controlo de mais de 1.250 quilómetros quadrados e acima de 93 localidades, enquanto a Rússia mantém uma pressão crescente na frente de Donetsk, no leste da Ucrânia.
O Ministério da Defesa russo indicou hoje que pelo menos 4.700 militares das Forças Armadas ucranianas já morreram no âmbito da sua incursão terrestre em Kursk.
"A operação para destruir unidades das Forças Armadas Ucranianas continua", sublinhou o ministério russo, que estima que Kyiv tenha mobilizado cerca de 12 mil soldados para esta incursão, não descartando que o inimigo possa enviar reforços.
Por sua vez, o governador de Kursk, Alexei Smirnov, revelou hoje que mais de 133.000 civis tiveram de abandonar as suas casas devido à ameaça ucraniana.
"Oito distritos da região de Kursk, com uma população de 152.566 pessoas, faziam parte da zona de reassentamento e evacuação. Até agora, 133.190 pessoas partiram, restam 19.376", detalhou.
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