"Precisamos de um inquérito, porque estamos a lidar com um novo tipo, uma ameaça diferente de violência extrema individualizada, e temos de ter as leis e o enquadramento necessários para lidar com ela", afirmou.
Starmer falava numa conferência de imprensa, transmitida pela televisão e redes sociais, sobre a resposta do Governo ao ataque de Southport, em julho passado, no qual morreram três crianças e 10 pessoas ficaram feridas, incluindo oito crianças.
O autor, Axel Rudakubana, 18 anos, declarou-se culpado na segunda-feira no Tribunal Penal de Liverpool de todas as acusações, estando a leitura sentença prevista para quinta-feira.
O jovem admitiu também a posse de rícino, uma substância tóxica, e de um manual de treino da organização terrorista Al-Qaeda.
O chefe do Governo britânico assumiu ser legítimo que este ataque seja considerado terrorista, algo que a polícia evitou classificar por não ser conhecida a intenção do autor do ataque.
"A verdade é que este caso é um sinal de que o Reino Unido enfrenta atualmente uma nova ameaça. O terrorismo mudou", afirmou Starmer, num discurso esta manhã em Londres, na residência oficial, em Downing Street.
Para além de grupos organizados, disse, existe agora a ameaça de "atos de violência extrema perpetrados por [pessoas] solitárias, marginais, jovens que, no seu quarto, acedem a todo o tipo de material na Internet, desesperados por notoriedade, por vezes inspirados por grupos terroristas tradicionais, mas fixados nessa violência extrema, aparentemente por si só", descreveu.
Starmer afirmou que as autoridades devem estar preparadas para identificar estas pessoas, e que, por isso, "se a lei tiver de ser alterada para reconhecer esta nova e perigosa ameaça, então mudá-la-emos e rapidamente, e também reveremos todo o nosso sistema de combate ao extremismo".
Uma questão a abordar deve ser a existência de conteúdos violentos ou perigosos disponíveis de forma gratuita na Internet, criticou.
O Governo confirmou notícias de que o jovem foi referenciado três vezes para o programa anti-extremismo Prevent em 2019 e 2021.
"Em cada uma dessas ocasiões, foi decidido que ele não atingia o limiar de intervenção, uma avaliação julgamento que estava claramente errada", admitiu Starmer.
Na segunda-feira, a ministra do Interior, Yvette Cooper, anunciou a realização de um inquérito para público iria "chegar à verdade sobre o que aconteceu e o que precisa de mudar".
O líder do Partido Reformista, Nigel Farage, acusou as autoridades de encobrimento da informação sobre os antecedentes de Rudakubana, mas Starmer reiterou hoje que não revelou essa informação antes para evitar prejudicar a investigação policial e o julgamento.
No dia seguinte ao ataque, e pouco depois de uma vigília pacífica pelas vítimas, um grupo violento atacou uma mesquita perto do local do crime, atirou tijolos e garrafas aos agentes da polícia e incendiou viaturas policiais.
Na origem dos protestos terão estado rumores de que o suspeito era um requerente de asilo que tinha chegado recentemente ao Reino Unido de barco, o que era falso.
Os tumultos violentos alastraram a dezenas de outras cidades ao longo da semana seguinte, quando grupos mobilizados por ativistas de extrema-direita nas redes sociais entraram em confronto com a polícia e atacaram hotéis que alojavam migrantes.
Mais de 1200 pessoas foram detidas por causa dos distúrbios e centenas foram condenadas a penas de prisão até nove anos.
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