"As questões geopolíticas estarão no centro da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros", afirmou na segunda-feira o ministro das Relações Internacionais e da Cooperação da África do Sul, Ronald Lamola, anfitrião da reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias mundiais e emergentes), que decorre quinta e sexta-feira em Joanesburgo.
A reunião surge num contexto profundamente marcado pelo clima de instabilidade geopolítica no mundo, agravado pelas medidas e declarações do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, em particular as suas ameaças de impor taxas alfandegárias, que poderão levar a uma guerra comercial, bem como os seus planos de deslocar de forma forçada a população da Faixa de Gaza para outros países da região e o reatar das conversações bilaterais com a Rússia.
"Vemos esta reunião como uma oportunidade para construir pontes entre o Sul e o Norte e para defender o desenvolvimento do Sul", disse Lamola, cujo país é a única nação africana com assento próprio no G20, em declarações à emissora pública sul-africana SABC.
As guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia deverão dominar a agenda da reunião na África do Sul.
O chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, anunciou no início do mês que estaria ausente da reunião em Joanesburgo, pois "a África do Sul está a fazer coisas muito más".
"Está a expropriar propriedade privada e usa o G20 para promover a 'solidariedade, igualdade e sustentabilidade'", referiu o secretário de Estado norte-americano.
Rubio referia-se à lei aprovada a 23 de janeiro pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que possibilita a expropriação de terras no interesse público pelo Estado sul-africano, uma questão particularmente sensível neste país marcado pelo sistema de segregação racista do 'apartheid' (1948-1994), que levou à distribuição desigual de terrenos.
"O meu trabalho é promover os interesses nacionais dos Estados Unidos, não desperdiçar o dinheiro dos contribuintes ou mimar o antiamericanismo", afirmou Rubio.
Donald Trump assinou também uma ordem executiva que suspende a ajuda externa de Washington, incluindo à África do Sul, acusada pelo governante norte-americano de expropriar terras e prejudicar Israel.
Na sequência da guerra na Faixa de Gaza, a África do Sul apresentou em dezembro de 2023 um processo junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal órgão judicial da ONU, a acusar Israel de cometer "genocídio".
Lamola assegurou esta semana que a África do Sul está empenhada em encontrar uma "solução amigável" para o conflito com os EUA e afirmou que os mesmos participarão na reunião de Joanesburgo "num nível inferior".
A China, a França, a Alemanha, a Itália e a União Europeia (UE) têm defendido a África do Sul face às declarações de Washington.
No passado dia 10, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, teve uma conversa telefónica com o chefe de Estado sul-africano, durante a qual sublinhou "o empenho da UE em aprofundar os laços com a África do Sul enquanto parceiro fiável e previsível".
"Manifestei o total apoio da UE à liderança da África do Sul no G20 e à sua ambição de reforçar a cooperação multilateral e o Pacto do Futuro para enfrentar os desafios globais mais prementes", frisou na ocasião António Costa, referindo-se ao documento adotado pelos líderes mundiais em setembro passado na ONU.
Entre os participantes esperados na reunião estão, entre outros, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, bem como a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas.
Kallas co-presidiu hoje o 16.º Diálogo Político Ministerial África do Sul-UE (MPD), juntamente com Lamola, na cidade sul-africana da Cidade do Cabo.
A África do Sul assumiu a presidência rotativa do G20 em dezembro passado, tendo como foco a crise climática e as perspetivas de crescimento económico global.
O G20 reúne Alemanha, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia, Reino Unido, União Europeia e União Africana.
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