Crise económica preocupa alemães, mas fica fora do debate político

Cada vez mais pessoas procuram apoio alimentar junto da organização humanitária Tafel, em Chemnitz, leste da Alemanha, reflexo da recessão económica que atinge o país, um tema praticamente ausente da campanha para as eleições legislativas do próximo domingo.

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© Sean Gallup/Getty Images

Lusa
21/02/2025 15:25 ‧ ontem por Lusa

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Alemanha

A sede da organização, semelhante ao Banco Alimentar, situa-se nos arredores de Chemnitz, a terceira maior cidade da Saxónia, com cerca de 250 mil habitantes, a maioria idosos.

 

Ao longo da manhã, pessoas dirigem-se ao edifício, onde entram, um a um, com sacos de compras vazios. No interior, voluntários vão dispondo alimentos num balcão. Quando saem, vêm carregados de alimentos e alguns até trazem um ramo de tulipas.

Em declarações à Lusa, a responsável da Tafel, Christiane Fiedler, afirmou que "a procura é enorme", mas, lamenta: "Apenas podemos ajudar parcialmente. O Estado tem de tomar conta das pessoas, somos apenas uma organização de ajuda e não podemos ajudar toda a gente e em todo o lado".

"Os pedidos de ajuda aumentaram, mas não podemos prestar ajuda em todo o lado", relatou a responsável, indicando que no ano passado, a instituição ajudou 32.763 pessoas, mais cerca de 2.500 pessoas que no ano anterior (30.273).

A instituição depende de donativos e distribui alimentos cedidos por lojas, pelo que "a oferta é sempre variável, por vezes é muita, por vezes é pouca".

"Fornecemos alimentos, por exemplo, produtos lácteos e charcutaria, produtos de padaria do dia anterior e fruta e legumes com pequenos defeitos", um apoio prestado uma vez por semana ou duas vezes por mês, adiantou Christiane Fiedler.

Segundo a responsável, "são muitas as pessoas que procuram ajuda, desde pais solteiros com filhos, famílias, refugiados, migrantes a reformados" e que precisam de "tudo o que é caro nas lojas". Os imigrantes, referiu, são cerca de 10% dos beneficiários.

O aumento do custo de vida lidera as preocupações dos alemães, segundo um estudo da seguradora R+V Versicherung, conduzido a poucos dias das eleições federais junto de mil cidadãos.

De acordo com o estudo, 70% dos entrevistados receiam o aumento do custo de vida -- numa pesquisa realizada no verão passado, este número situava-se em 57%.

"A inflação pode ter caído, mas os preços absolutos permaneceram altos. Muitas pessoas sentem que seu padrão de vida realmente se deteriorou. Isto é particularmente percetível nos preços dos arrendamentos, da energia e dos alimentos", considera a cientista político Isabelle Borucki, da Universidade Philipps de Marburg, citada no estudo.

A Alemanha, dependente da energia russa barata, viu a situação económica agravar-se há três anos, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e subsequente imposição de sanções contra o Kremlin, o que fez disparar os custos da energia.

Por outro lado, as exportações, principal motor da terceira maior economia do mundo e a maior da Europa, estão a ser afetadas pela concorrência chinesa e ameaçadas pelas tarifas anunciadas pela nova administração norte-americana, desde a posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos.

A OCDE prevê que a Alemanha terá o menor crescimento económico da União Europeia, após dois anos de recessão.

O tema, no entanto, tem sido pouco abordado na campanha eleitoral para as eleições federais antecipadas do próximo domingo, com o debate a ser mais dominado pela imigração e a recusa dos partidos tradicionais de se aliarem à Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita), em segundo lugar nas sondagens (cerca de 20% nas intenções de voto).

Num frente a frente na quarta-feira, o chanceler e candidato do Partido Social-Democrata (SPD), Olaf Scholz, e o líder da União Democrata-Cristã (CDU), Friedrich Merz, favorito nas sondagens (30%), expuseram as suas fórmulas antagónicas para tirar a Alemanha da recessão.

Scholz defende um rótulo "made in Germany" para atrair novos investimentos do estrangeiro, bem como um limite máximo para as tarifas da rede elétrica para baixar os preços da energia e reiterou a sua promessa de reduzir o IVA sobre os alimentos.

Além disso, Scholz sublinhou mais uma vez a necessidade de reformar o travão da dívida, o mecanismo constitucional que limita o endividamento anual a 0,35% do produto interno bruto (PIB), para permitir investimentos necessários em diferentes áreas, nomeadamente na defesa.

Merz apresentou, por seu lado, o seu projeto de redução faseada do imposto sobre as sociedades de 30% para 25%, o que implicaria para o Estado uma perda de receitas entre 20 e 30 mil milhões de euros, uma medida que, disse, aumentaria a competitividade das empresas e ajudaria a reanimar a economia, subindo as receitas fiscais.

O líder conservador propõe também a redução da burocracia e criticou o facto de, durante o mandato de Scholz, se ter mantido o plano para o encerramento das centrais nucleares e a transferência das centrais a carvão para a reserva.

Leia Também: Alemães votam no domingo sem futuro governo definido

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