"Temos excelentes relações com o Reino Unido desde há muitos anos", afirmou hoje à agência Lusa, após um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Lammy, e a sub-secretária de Estado, responsável pela região do Indo-Pacífico, Catherine West.
Ramos-Horta adiantou que o Reino Unido tem apoiado Timor-Leste no processo de adesão à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e na área da capacitação profissional.
No ano passado, Londres reabriu a embaixada britânica em Díli e, no espaço de 10 meses, enviou dois membros do Governo à capital timorense para reforçar os laços bilaterais.
O Presidente timorense garantiu hoje que este relacionamento não foi afetado pela deportação em julho de 2024 de três dezenas de imigrantes timorenses em situação ilegal pelo Ministério do Interior britânico.
"O Reino Unido, a maneira como está a gerir a questão dos ilegais, merece o meu maior respeito. É um exemplo para outros países seguirem", afirmou à Lusa.
Segundo Ramos-Horta, "eles têm tratado [os timorenses] com toda a dignidade e com todo o respeito", nomeadamente aqueles que aderiram ao programa de repatriação voluntária.
Além do custo da viagem de regresso a Timor-Leste, os participantes neste regime recebem um pagamento único de 3.000 libras (cerca de 4.000 dólares, ou 3.500 euros), podendo candidatar-se a um visto de trabalho após cinco anos.
Aqueles expulsos à força não podem voltar ao Reino Unido durante pelo menos 10 anos.
"Os timorenses estão muito satisfeitos com essa maneira de tratar. (É) muito pacífico, sem qualquer problema. E revela os valores de uma sociedade", salientou.
A comunidade timorense no Reino Unido está estimada em 30.000 pessoas, sendo considerada a maior no estrangeiro.
Durante a vista de trabalho a Londres, o Presidente timorense foi recebido no parlamento britânico pelo Presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, na quinta-feira.
Durante o encontro, além do apoio à adesão à ASEAN, os dois discutiram a ajuda externa britânica para combater a desnutrição e o atraso no crescimento de crianças timorenses, adiantou fonte parlamentar à Lusa.
Na quarta-feira, Ramos-Horta também se encontrou com responsáveis da britânica Sunda Energy, à qual foi atribuída a exploração dos recursos de gás no campo Chuditch.
Estudos realizados pela SundaGas confirmaram recursos contingentes de gás de 1,16 triliões de pés cúbicos (32,9 biliões de metros cúbicos) no campo de Chuditch, situado a 185 quilómetros a sul de Timor-Leste, além de recursos prospetivos adicionais em áreas adjacentes.
Ramos-Horta adiantou que este a possibilidade de a extração começar dentro de dois anos, providenciando receitas importantes enquanto se aguarda pela exploração do projeto Greater Sunrise, que deverá levar cerca de oito anos até chegar à fase de produção.
"Significa que teremos uma ponte que nos dá uma margem financeira enquanto esperamos pelo Greater Sunrise, que é um grande campo e que garante o futuro de Timor por 30 a 40 anos", salientou.
A visita encerrou com uma palestra na universidade London Business School e uma reunião com o comité da ASEAN em Londres na embaixada da Indonésia.
Ramos-Horta encurtou a viagem para poder assistir ao funeral do Para Francisco em Roma no sábado, para onde segue ainda hoje, regressando depois a Díli.
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