Multinacionais acusadas de ignorar excessos na produção de óleo de palma

A Amnistia Internacional (AI) acusou hoje nove multinacionais, incluindo a Nestlé e a Unilever, de fecharem os olhos aos abusos de uma fornecedora de óleo de palma que alegadamente explora mulheres e crianças de oito a 14 anos.

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Lusa
30/11/2016 00:05 ‧ 30/11/2016 por Lusa

Mundo

Amnistia Internacional

As empresas em causa - AFAMSA, ADM, Colgate-Palmolive, Elevance, Kellogg's, Nestlé, Procter & Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever - "estão a fechar os olhos à exploração de trabalhadores na sua cadeia de fornecedores", alertou Meghna Abraham, investigadora sénior na AI, citada num comunicado da organização.

"As grandes marcas continuam a lucrar com abusos terríveis. Estas revelações vão chocar qualquer consumidor que pense estar a fazer escolhas éticas no supermercado", acrescentou a responsável da AI, segundo a qual 50% dos produtos nos supermercados ocidentais contêm óleo de palma - desde alimentos até produtos de limpeza ou de higiene.

Num relatório hoje publicado, intitulado "O grande escândalo do óleo de palma: Abusos laborais por detrás de grandes marcas", a AI revela abusos alegadamente cometidos pela maior produtora mundial de óleo de palma nas suas explorações na Indonésia.

Em causa está a empresa Wilmar, sediada em Singapura, que produz 35 milhões de toneladas de óleo de palma por ano, representando 45% da produção mundial desse óleo, e cujas explorações e refinarias empregam três milhões de indonésios, ou seja pelo menos um terço da força de trabalho global do setor.

Embora a empresa tenha receitas de quase 40 mil milhões de dólares, os trabalhadores da Wilmar e dos seus fornecedores nas plantações indonésias mal conseguem alimentar as famílias com o que ganham, que em casos extremos chega a ser apenas 2,50 dólares por dia, denuncia a AI.

Crianças de oito a 14 anos em trabalhos fisicamente pesados e perigosos, alguns deixando mesmo a escola para ajudar os pais nas plantações; mulheres forçadas a trabalhar longas horas sob ameaça de redução de ordenados e a receber abaixo do salário mínimo e em condições precárias são algumas das práticas denunciadas.

A organização refere também trabalhadores que sofreram ferimentos graves devido ao paraquato, um químico altamente tóxico que é usado nas plantações apesar de proibido pela União Europeia e pela própria Wilmar, e outros obrigados a trabalhar sem proteção contra os elevados níveis de poluição provocados por incêndios florestais entre agosto e outubro de 2015.

Os trabalhadores são forçados a trabalhar longas horas para cumprirem "metas ridiculamente elevadas", por vezes executando tarefas fisicamente exigentes que os deixam com dores significativas, e são sujeitos a castigos por deixarem frutos no chão ou por apanharem a fruta verde.

As conclusões da AI resultam de entrevistas a 120 trabalhadores, incluindo alguns supervisores, em plantações diretamente detidas pelas duas subsidiárias da Wilmar ou por outras três companhias que fornecem as refinarias da empresa na Indonésia.

Segundo a organização, a própria Wilmar reconheceu que há questões laborais nas suas operações.

Apesar disso, três das cinco empresas investigadas pela AI são certificadas como produzindo óleo de palma "sustentável", ao abrigo da Mesa Redonda sobre o Óleo de Palma Sustentável, criada em 2004 para limpar o setor, após escândalos ambientais.

Com base em dados sobre exportações e informações divulgadas pela Wilmar, os investigadores da AI dizem ter identificado entre os clientes da empresa nove multinacionais, sete das quais reconheceram comprar óleo de palma à Wilmar.

No entanto, apenas duas, a Kellogg's e a Reckitt Benckiser, forneceram alguns detalhes sobre os produtos afetados.

Todas, menos uma, são membros da Mesa Redonda para o óleo de palma Sustentável e advogam usar óleo de palma sustentável nos seus produtos.

Nenhuma das empresas contactadas pela AI negou que os abusos ocorram ou apresentou exemplos de ações que esteja a tomar para lidar com os abusos.

"Alguma coisa está errada quando nove empresas que, juntas, tiveram receitas de 325 mil milhões de dólares em 2015 são incapazes de fazer alguma coisa para evitar o tratamento atroz dos trabalhadores do setor do óleo de palma, que recebem uma ninharia", disse Meghna Abraham.

A AI diz que vai pedir às multinacionais que digam aos clientes se o óleo de palma que usam em produtos como o gelado Magnum, a pasta de dentes Colgate, os cosméticos Dove, as sopas Knorr, os chocolates KitKat, o shampô Pantene ou o detergente Ariel são provenientes da operação da Wilmar na Indonésia.

 

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