Com curadoria geral dos arquitetos Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, dupla portuguesa fundadora do atelier CVDB, o evento regressará com uma programação até 05 de dezembro em vários espaços culturais da capital, focados na forma como a arquitetura pode contribuir para a sustentabilidade da vida nas cidades.
"A exploração intensiva de recursos, e até predadora, bem como a produção de lixo, estão a ter consequência dramáticas no planeta e é preciso passar à ação", urgiu o presidente da Trienal, José Mateus, na apresentação da programação, na Câmara Municipal de Lisboa, pedindo "novas políticas, novas formas de organização das cidades, para mudar o atual paradigma".
Nesse sentido, esta 6.ª edição do evento dedicado à arquitetura contemporânea apresentará quatro exposições, três prémios, quatro livros, três dias de conferências, e uma seleção de projetos independentes, que irão mostrar reflexões e práticas de outros continentes sobre a arquitetura contemporânea, "hoje confrontada com vários desafios, com impactos ao nível social, político e climático".
Também presente na sessão, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, declarou que pretende "defender a arquitetura como a base da cidade", e como disciplina que "tem capacidades extraordinárias para se envolver nas soluções num dos maiores desafios de hoje: o combate às alterações climáticas".
"Gostaria muito que a arquitetura que hoje fazemos em Lisboa desse um sinal de liderança na Europa, num mundo em transição, cada vez mais digital, mas que também continua físico", declarou o autarca, sobre a importância das cidades, onde vive 50 por cento da população mundial, e são grandes consumidoras de recursos e também fonte de poluição.
Por seu turno, os curadores referiram que "a pandemia foi uma oportunidade de reflexão para preparar a programação" e, por opção, decidiram "não traduzir a palavra Terra para o inglês [neste evento internacional], por possuir um significado tão profundo em português".
O tema "incorpora uma declarac¸a~o de intenc¸a~o e um apelo a` ac¸a~o, propondo a evoluc¸a~o do atual modelo de sistema fragmentado e linear, caracterizado pelo uso excessivo de recursos, para um modelo de sistema circular e holi´stico, motivado por um maior equili´brio entre comunidades, recursos e processos", sublinhou a dupla de arquitetos responsável pela curadoria.
Da programação constam quatro exposições: "Multiplicidade", com curadoria de Tau Tavengwa, do Zimbabué, e Vyjayanthi Rao, da Índia, que estará patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), explorando a forma "como a arquitetura e a prática projetual se estão a adaptar a um período marcado por desigualdades sem precedentes, mudanças climáticas ou as pandemias", descreve organização.
No Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), estará "Reatroativar", exposição com curadoria dos mexicanos Loreta Castro Reguera e Jose Pablo Ambrosi, que se debruça sobre "a cidade desfeita onde vive um terço da humanidade, mostrando as possibilidades de nela intervir com soluções que resgatem a dignidade espacial e o sentido de pertença, estruturando necessidades e serviços básicos através da criação de equipamentos públicos".
"Ciclos" é a exposição que ocupa a Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, com curadoria dos chilenos Pamela Prado e Pedro Ignacio Alonso, apresentando "várias estratégias nas práticas arquitetónicas que migram do modelo linear para o circular, no caminho da sustentabilidade, economia e memória".
Na Culturgest, a curadora russa Anastassia Smirnova irá apresentar "Visionárias", um "espelho das visões realizadas e realizáveis por pessoas da arquitetura, das artes, do design e da ciência, que aspiram a mudar o mundo sistematicamente, questionando como podem as visões radicais transformar-se na nova norma".
Além das quatro exposições principais, os 16 projetos independentes foram selecionados entre as 67 candidaturas recebidas num concurso, e serão expostos no Palácio Sinel de Cordes, sede da Trienal, e noutros espaços da Área Metropolitana de Lisboa.
De acordo com a organização, nesta edição os Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp ganharam uma nova dimensão: além do Prémio Début, destinado a galardoar um 'atelier' de arquitetura ou jovem profissional para celebrar as suas conquistas, e o Prémio Carreira, que reconhece a relevância do trabalho de figuras da arquitetura no ativo para o panorama global, foi alargado o Concurso Prémio Universidades com participações de estudantes de mestrado, também a pessoas da área da investigação - individuais ou coletivas - para a produção de conhecimento em, para e sobre arquitetura.
Este concurso conta com a participação de 46 instituições académicas de 22 países.
A presente edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa inclui ainda o lançamento de uma coleção de livros, dedicada aos temas das exposições, numa compilação editada pela equipa curatorial, uma série de conferências Talk, Talk, Talk, que junta vozes nas áreas do pensamento, crítica, investigação e prática, ao longo de três dias na Fundação Calouste Gulbenkian, e atividades educativas para todas as idades, com ´workshops´, oficinas para crianças, visitas guiadas com desafios para adolescentes e tertúlias para adultos.
Trazendo a arquitetura ao debate da atualidade a cada três anos, o evento teve início em 2007, sobre o tema "Vazios Urbanos", em 2010 foi a vez do tema "Falemos de Casas", a terceira, "Close, Closer", em 2013, a quarta " The Form of Form", em 2016, e em 2019, "A Poética da Razão" recebeu mais de 92 mil visitantes.
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