A problemática da escassez de água doce e a busca de soluções sustentáveis para a gestão de recursos hídricos são o centro deste projeto que assenta em sete casos do território português, de acordo com a curadoria que venceu o concurso organizado pela Direção-geral das Artes (DGArtes).
Esta proposta portuguesa envolve um conjunto de laboratórios de debate e será também apresentada em forma de uma exposição no Palácio Franchetti, em Veneza, entre 20 de maio e 26 de novembro, na 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura, que tem como título "O Laboratório do Futuro", lançado pela curadora Lesley Lokko.
Hoje e domingo, no Palácio Sinel de Cordes, sede da Trienal de Arquitetura de Lisboa, parceira do projeto, decorre o primeiro momento de "Fertile Futures", descrito pela curadora como uma resposta à urgência da escassez de água doce.
A proposta para Veneza "é muito sobre o encontro e sobre a produção de conhecimento nesse encontro, a pensar nas novas gerações, que serão os responsáveis pelo futuro sustentável", sintetizou Andreia Garcia esta semana, numa entrevista à agência Lusa sobre a ideia essencial, que "articula projeto, pensamento e pedagogia".
"A escassez de água doce é um problema global com manifestações dramáticas no território português. Repercute-se no alargamento dos períodos de seca extrema e aumento do calor, agravamento de aridez dos solos, risco de incêndio, e, ao mesmo tempo, cheias e inundações que vivemos recentemente", alertou a arquiteta e professora universitária, fundadora do ateliê Architectural Affairs, no Porto.
No projeto serão reunidos especialistas de várias áreas além da arquitetura, da antropologia, geografia e engenharia, num encontro "multidisciplinar, equitativo, sustentável, participativo e colaborativo", entre várias gerações, porque será aberto também a estudantes de todo o mundo numa escola de verão, a decorrer no Fundão, no distrito de Castelo Branco.
Esta proposta baseia-se numa "ideia muito alternativa" à habitual "exposição de obras selecionadas" na Bienal de Veneza, sublinhou à Lusa a arquiteta que assinou, entre outros projetos, a curadoria da Bienal de Arte Contemporânea da Maia (2019).
Os casos em estudo escolhidos para o projeto, exemplificativos da ação do ser humano sobre recursos hídricos, naturais e finitos são "o impacto da Gigabateria na bacia do Tâmega; a quebra da convenção no Douro Internacional; a extração mineira no Médio Tejo; a imposição de interesses na Albufeira do Alqueva; a anarquia no perímetro de rega do Rio Mira; a sobrecarga das lagoas na Lagoa das Sete Cidades e o risco de aluviões nas Ribeiras Madeirenses".
Nesta primeira sessão de lançamento de "Fertile Futures", em Lisboa, participam, como consultores, Álvaro Domingues, Ana Salgueiro Rodrigues, Ana Tostões, Andres Lepik, Aurora Carapinha, Eglantina Monteiro, Érica Castanheira, Francisco Ferreira, João Mora Porteiro, João Pedro Matos Fernandes, Luca Astorri, Margarida Waco, Marina Otero, Patti Anahory, Pedro Gadanho e Pedro Ignacio Alonso, e decorre hoje, entre as 10:20 e as 13:30, e as 15:00 e 17:30, e domingo, das 10:20 às 13:30.
As cinco assembleias de pensamento que compõem o projeto "Fertile Futures" serão abertos ao público, e de acesso gratuito, e irão decorrer ainda em Veneza (maio), Braga (junho), Faro (setembro) e Porto Santo (outubro).
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