Os militares, que há 50 anos marcharam até Lisboa e voltaram a Santarém, vitoriosos, no dia 27, percorreram algumas das artérias mais importantes da cidade de Santarém, desde o Jardim da Liberdade até ao Largo do Município, a bordo de algumas viaturas militares, entre elas, a chaimite Bula, onde foi transportado o então presidente do Conselho, Marcello Caetano, após a rendição do regime.
O grupo de Militares, recebidos pelo presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, e outros membros do executivo, foram convidados a irem às varandas do município, à semelhança do que aconteceu em 1974, quando os oficiais foram aclamados pela população que enchia o largo.
Emocionados, os militares foram aplaudidos pelas largas dezenas de pessoas que se mobilizaram junto à Câmara, que, de cravos na mão e ao peito, entoaram cânticos alusivos à revolução, como "Viva os capitães de Abril" e "25 de Abril sempre".
Para o vereador da Cultura, Nuno Domingos, a reconstituição histórica da chegada da coluna militar é uma forma de homenagear todos aqueles que contribuíram para o fim da ditadura, nomeadamente os militares cujos nomes não são tão conhecidos pelo público, mas que desempenharam um papel crucial na operação de 1974.
Criada com o objetivo de honrar e lembrar todos aqueles que contribuíram para a revolução, esta iniciativa foi descrita pelo vereador como uma forma de acolher e reconhecer a importância de um grupo de homens que "deram tudo e não pediram nada em troca".
"Alguns choraram e emocionaram-se. Estão de alma cheia e Santarém acolhe estes militares como provavelmente nunca foram acolhidos. Estes homens deram tudo e não pediram nada em troca e normalmente a história tende-se a esquecer deles. Mas nós achamos que estas pessoas são importantes", disse o vereador, em declarações à Lusa.
Esta iniciativa não só prestou homenagem aos heróis anónimos de 1974, mas também quis honrar a memória do Fernando Salgueiro Maia, uma das figuras mais emblemáticas da Revolução de Abril e da cidade de Santarém.
"Aquilo que o Salgueiro Maia fez, comandando a sua coluna militar, enfrentando as forças do estado novo em Lisboa, e ultrapassando todos os obstáculos até chegar ao Carmo e prender Marcelo Caetano, é digno de registo. E tudo isto aconteceu com a ajuda de cerca de 250 homens que seguiram o seu líder, sem hesitações, com medos que souberam dominar e controlar", disse Nuno Domingos.
A Viúva do capitão Salgueiro Maia, Natércia Maia, recorda à Lusa que no dia 27 de abril de 1974 as ruas de Santarém estavam "cheias de população" e que "os militares foram recebidos com muita alegria e entusiasmo".
Natércia Maia destaca a coragem dos militares que "tiveram a capacidade e a ousadia de ir até Lisboa enfrentar o Poder".
"O que mexeu mais comigo foi a saída para Lisboa. Houve muita coragem da parte deles e tínhamos noção que as coisas podiam não correr bem. Ainda hoje é uma coisa que nós temos dificuldade em compreender", disse Natércia, à Lusa.
Para a viúva de Salgueiro de Maia, estas celebrações foram importantes para todos aqueles que não dão a devida importância ao 25 de Abril, referindo que estas iniciativas são fundamentais para "refletir", "ter mais empatia" e ter a capacidade de "encontrar soluções".
"A quem o 25 de abril passava um bocadinho ao lado, estas celebrações foram importantes para repensar, refletir, querer saber mais e ter empatia, que é uma coisa que ele [Salgueiro Maia] tinha. Ele não estava à espera que pedissem, ele era uma pessoa de ação. Ele encontrou sempre soluções para tudo, de acordo com as suas possibilidades".
Após o regresso da coluna militar, o largo do município foi palco de um concerto do carrilhão LVSITANVS, de homenagem a Zeca Afonso e a outros cantores de Abril, como Adriano Correia de Oliveira, Vitorino e Ermelinda Duarte.
Este carrilhão, a cargo de Ana Elias, tem sete toneladas e é composto por 63 sinos, sendo o maior carrilhão itinerante do mundo.
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