"Quero dizer-vos que a SEDES é herdeira da ética, da abertura de espírito e da coragem intelectual com que Francisco Sá Carneiro vincou a vida pública portuguesa", declarou o médico, dirigente socialista e presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, Álvaro Beleza.
A referência a Sá Carneiro, "uma das personalidades mais ativas" da SEDES, no dia em que se assinalam 40 anos desde o seu desaparecimento, foi feita na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a propósito do 50º aniversário da associação cívica, fundada em 1970.
Salientando que a associação "não era -- nem é -- um partido político", Álvaro Beleza notou que a SEDES "é hoje o que sempre foi: um centro de reflexão aberto à sociedade civil, uma escola de pensamento ao serviço de Portugal".
"Não faz política, mas também não é apolítica, rejeitando -- como sempre rejeitou -- o ideário simplista e populista dos extremos, tanto à esquerda como à direita", declarou.
O presidente fez questão de salientar que a associação está onde sempre esteve: "do lado da moderação, não do radicalismo; do lado da tolerância, não da retórica que discrimina consoante a raça, o género, a religião ou a classe social; do lado da solidariedade social, não do paternalismo político".
Álvaro Beleza apontou que Portugal tem hoje "uma das maiores dívidas do mundo" e "uma das taxas de desemprego entre jovens mais elevada da União Europeia", alertando para o facto de o país ter uma democracia "em que mais de metade dos eleitores não vota em legislativas e uma economia onde cerca de metade da população depende financeiramente do Estado".
"Comprometemo-nos assim, hoje e aqui, a oferecer ao país uma visão de futuro estruturada em propostas concretas, estudadas e quantificadas; a oferecer um conjunto de soluções capazes de corrigir as nossas vulnerabilidades e de aumentar de forma significativa os nossos índices coletivos de desenvolvimento", rematou.
Após o discurso do presidente, foi exibida uma mensagem em vídeo do secretário-geral da ONU e associado 268 da SEDES, António Guterres.
"É justo reconhecer o que foi o papel da SEDES nestes últimos 50 anos, mas mais do que uma homenagem importa ter presentes as questões com que nos confrontamos hoje, no domínio cívico e político, no desenvolvimento económico, em matéria ambiental e de sustentabilidade e no que diz respeito à pandemia da covid-19. Estou certo que a SEDES contribuirá com a qualidade do seu trabalho e a carreira dos seus membros para nos ajudar a melhor compreender o tempo presente e a superar os desafios que este nos apresenta", considerou.
Fundada em 1970, no período da ditadura conhecido por "primavera marcelista", quando se esperava uma abertura significativa da sociedade, a SEDES é uma associação cívica que tem por missão contribuir para o desenvolvimento económico e social do país.
Entre os membros desta "escola de cidadania" encontram-se nomes como o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral da ONU e ex-primeiro-ministro, António Guterres, o falecido chefe do Governo Francisco Sá Carneiro, os economistas/banqueiros João Salgueiro e Rui Vilar, o ex-dirigente da UGT João Proença, ou os ex-ministros João Cravinho e José Vera Jardim.
Para 2021, a associação tem já marcado o seu V congresso, onde serão apresentadas propostas estratégicas para as próximas décadas.