Na última reunião do órgão máximo do partido entre Congressos, há cerca de três semanas, as eleições diretas foram marcadas para 04 de dezembro e o Congresso para 14, 15 e 16 de janeiro, tendo-se apresentado como candidatos à liderança do PSD desde essa data o eurodeputado Paulo Rangel e o atual presidente, Rui Rio.
O calendário aprovado tinha sido inicialmente proposto pela direção, mas, na véspera do Conselho Nacional e após alertas do Presidente da República de que poderia haver uma crise política, Rio apelou à suspensão da disputa interna até se esclarecer se o Orçamento do Estado era ou não aprovado. A proposta acabaria rejeitada com 71 votos contra, 40 a favor e 4 abstenções.
Perante o 'chumbo' confirmado do Orçamento em 27 de outubro, mais de 60 conselheiros nacionais e dirigentes distritais fizeram um pedido de um Conselho Nacional extraordinário para antecipar o Congresso para entre 17 e 19 de dezembro, que mereceu o apoio de Paulo Rangel, e que deverá ser votado hoje.
Na agenda da reunião está também, a pedido da direção, a "análise da situação política decorrente da reprovação do Orçamento do Estado para 2022 e da previsível dissolução da Assembleia da República", entretanto confirmada na quinta-feira pelo Presidente da República, que anunciou a marcação de eleições antecipadas para 30 de janeiro.
Na quinta-feira, em entrevista à TVI, Rui Rio voltou a apelar à ponderação do partido sobre "o absurdo" de o PSD estar em disputa interna enquanto se prepara para legislativas, mas anunciou uma nova proposta: tentar antecipar, ao máximo, todo o calendário eleitoral interno, incluindo as diretas para escolher o presidente social-democrata.
O líder do PSD justificou a sugestão - que deverá concretizar hoje na reunião - para "comprimir em uma ou duas semanas" (neste caso, com diretas em 20 ou 27 de dezembro) o calendário interno, de forma a diminuir "o benefício" do PS em fazer campanha sem oposição e para não ser acusado de "ter medo de ir a eleições" e de querer "suspender a democracia interna".
Em entrevista à SIC, na sexta-feira à noite, Paulo Rangel não se mostrou entusiasmado com a ideia, admitindo poder aceitar uma antecipação do calendário eleitoral interno apenas "se for juridicamente possível".
"Temos eleições diretas a 04 de dezembro e vamos fazê-las (...) Se as diretas forem a 04 de dezembro e o Congresso entre 17 e 19 de dezembro, é perfeitamente possível cumprir os prazos das legislativas. Estou aqui para trabalhar com qualquer prazo", contrapôs o eurodeputado, acusando Rio de ter tido "três posições num mês" sobre o tema e de não oferecer "estabilidade nem credibilidade" ao partido.
Do lado dos apoiantes de Paulo Rangel, recorda-se que os estatutos do PSD obrigam a que a escolha do presidente da Comissão Política Nacional do PSD coincida com a eleição de delegados, que exige uma convocatória mínima de 30 dias, já ultrapassada.
No entanto, entre a atual direção, considera-se que a convocatória foi feita respeitando o prazo de 30 dias, tratando-se apenas de "alterar a data" da eleição do presidente.
Rangel tem rejeitado qualquer possibilidade de suspender o ato eleitoral no partido, defendendo que o processo interno até será uma oportunidade para o PSD fortalecer o seu candidato a primeiro-ministro.
Já Rio recusou que possa ele próprio apresentar hoje uma nova proposta de adiamento, mas admitiu que qualquer conselheiro eleito é "livre" de o fazer na reunião com início marcado para as 15:30 no Centro de Congressos de Aveiro.
Neste caso, recorda fonte da direção, segundo o regulamento do Conselho Nacional, qualquer decisão poderá ser sujeita a voto secreto (no último foi de braço no ar que se rejeitou suspender o calendário), caso tal seja pedido "por um quinto dos membros do Conselho Nacional presentes".
Além de Rui Rio e Paulo Rangel, esta semana foi anunciado que o ex-candidato a presidente da Câmara de Alenquer, Nuno Miguel Henriques, estaria a recolher assinaturas para uma candidatura com vista à liderança do partido, o que obriga o PSD a ter prevista uma data para uma hipotética segunda volta, para já fixada em 11 de dezembro.
O prazo para a entrega de candidaturas termina em 22 de novembro e tem de ser acompanhada de 1.500 assinaturas.
Por enquanto, pouco mais de 27 mil militantes do PSD têm as quotas em dia para votar nas eleições diretas - cerca de um terço do total - e o prazo limite de pagamento está marcado para 17 de novembro.
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