Em declarações à agência Lusa, Joana Mortágua explicou que "em tempos houve um protocolo entre a autarquia, a EDP e a associação de moradores do bairro que iria permitir a instalação de contadores de luz, mas que não teve continuidade", pelo que tenciona questionar o executivo sobre esta matéria.
"Os contratos de luz nunca se efetivaram. Instalaram os contadores mas depois, por alguma razão que tentarei compreender, acabou por não avançar", disse, adiantando que a medida visava resolver as recorrentes falhas de energia que ocorriam principalmente nos dias mais frios do ano com uma sobrecarga da rede.
No domingo, a Associação Cova do Mar, que faz intervenção humanitária no Bairro do Segundo Torrão, na Trafaria, Almada, apelou a uma ação social urgente na zona, uma vez que parte dos moradores estava há mais três dias sem eletricidade.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação Cova do Mar, Alexandra Leal, explicou que os moradores afetados por este corte de energia precisavam de lanternas, refeições quentes, mantas e um gerador de emergência.
A associação apelou à doação de lanternas ou de donativos para as comprar de forma a socorrer as famílias com o que considera ser "o mínimo dos mínimos" e alertou para a necessidade de as entidades oficiais acionarem com urgência os meios de apoio de emergência.
O Segundo Torrão, na Trafaria, é um bairro precário do concelho de Almada, distrito de Setúbal, com mais de três mil pessoas, que há cerca de 40 anos se começou a formar ilegalmente, uma condição que se mantém, assim como as carências habitacionais, a falta de luz, de esgotos ou de limpeza nas ruas.
Segundo Alexandra Leal, na impossibilidade de terem um contrato, os moradores recorrem a "puxadas" feitas de forma irregular, o que torna as sobrecargas de rede frequentes.
A vereadora sem pelouro do Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Almada, Joana Mortágua, adiantou em declarações à agência Lusa que os problemas do bairro prolongam-se no tempo.
"Há muitos anos que se promete um processo de deslocalização do bairro que, efetivamente, não tem condições e as pessoas que ali estão têm de ter acesso a habitação com direito", disse, explicando que um plano para o bairro tem de ter em conta a sua especificidade e contestando que a solução a encontrar seja um processo de retirada das pessoas para um prédio urbano.
"Há pessoas cuja economia é complementada com a pesca e para nós é essencial que um processo de realojamento do Bairro do Segundo Torrão seja mais do que um processo de retirar as pessoas e colocá-las todas num prédio no Feijó", disse.
Joana Mortágua considera que este é um processo complexo que deve ser feito com cuidado e que deve implicar um projeto social de acompanhamento das famílias com a construção de um projeto de vida sem desfazer a comunidade.
"Não é fazer o que se fez nos anos 90, que foi retirar populações que têm um contexto de vida e um contexto económico e encaixotá-la em prédios onde a noção comunitária é diferente. Há outra dinâmica social ali e tem de ser respeitada", frisou.
A agência Lusa contactou a Câmara Municipal de Almada durante o dia de hoje no sentido de obter respostas quanto à resolução da falta de energia no bairro do Segundo Torrão durante mais de três dias e se as famílias estavam a receber apoio, mas até ao momento não obteve resposta.
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