Numa declaração política na Assembleia da República, o deputado do PSD Salvador Malheiro acusou o PS de "falta de responsabilidade e honestidade intelectual" após entrevista do secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, ao jornal Expresso, na qual recusa voltar ao regime de manifestação de interesse, que facilitou, em determinadas situações, a legalização de imigrantes.
É a "maior mudança de opinião de um líder político de que há memória, renegando posições assumidas pelo seu partido há quase duas décadas, apenas e só por questões meramente taticistas e eleitoralistas", acusou.
Salvador Malheiro considerou que "já não bastava" o PS ter proposto nesta legislatura a descida do IVA da eletricidade ou a eliminação as portagens das ex-SCUT, "tendo-se esquecido de o fazer quando esteve a governar durante oito anos", e aprovar agora essas medidas "em coligação com o partido de extrema-direita, que afirmavam há meses que por eles nunca passaria".
"O PS dantes não era assim. Defendia intransigentemente o socialismo democrático, e bem, mas nunca deixou de ser responsável, sério e honesto intelectualmente. É caso para perguntar onde anda o PS de Mário Soares, Jaime Gama e até de António Guterres", questionou.
O deputado do PSD pediu ao PS que se "entenda e clarifique posições", defendendo que não se dignifica a política quando há "altos responsáveis do mesmo partido a contradizerem-se publicamente", numa referência às críticas de José Luís Carneiro, Eurico Brilhante Dias e Ana Catarina Mendes às declarações de Pedro Nuno Santos.
"Moderem-se, porque o país precisa de um PS moderado e não colado aos extremos. Mas, acima de tudo, sejam responsáveis e tenham sentido de Estado", pediu, numa intervenção que foi não ouvida pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, que não estava no plenário por se encontrar atualmente na reunião do Conselho de Estado.
Após esta intervenção, o deputado do PS Pedro Delgado Alves recusou que o partido tenha mudado de posição sobre imigração, salientando que é a mesma desde o início desta legislatura.
"A posição do PS sobre isto e sobre a manifestação de interesses tem sido cristalina: uma solução desenhada no passado para resolver problemas reais, de pressão sobre os consulados, (...) infelizmente é uma solução que se revelou precisar de ajustamentos e uma reconfiguração. E, por isso mesmo, o PS não propôs o regresso a este modelo. Está documentado", disse.
Pedro Delgado Alves frisou ainda que o PS está empenhado em construir um novo regime que substitua o modelo que foi implementado pelo atual Governo, porque deixa "sem proteção e sem resposta aqueles que tentam imigrar [para Portugal] e não têm outra alternativa senão as redes de tráfico ilegal".
O líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, considerou "vergonhosas as mudanças de posição" de Pedro Nuno Santos sobre imigração, ironizando que ainda se vai ouvir nesta legislatura o PCP e o BE a dizer "que há um problema de imigração".
Já o deputado do PCP perguntou a Salvador Malheiro se concorda com "a doutrina de Carlos Moedas", quando considera que "os dados da polícia [sobre criminalidade] não interessam, o que interessa são as perceções".
Por sua vez, o deputado do Livre Paulo Muacho acusou o PSD e o Governo de "andarem a reboque da agenda de extrema-direita" em termos de imigração e de "dizer zero" sobre integração, enquanto a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, perguntou se o executivo está disponível para fazer um "debate sério e sem polarização" sobre o tema.
Antes de Salvador Malheiro, o líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, também fez uma declaração política na qual saudou a posição de Pedro Nuno Santos, considerando que, "a ser genuína, é de bom senso, afastando-se de posições mais extremistas e radicais".
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