O livro, intitulado "Privatização da ANA: Assalto aos aeroportos", foi apresentado hoje no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, pelo antigo deputado do PCP Bruno Dias e Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do Comité Central do partido Vasco Cardoso.
Num discurso no final da sessão, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que a privatização da ANA foi "um péssimo negócio para o Estado" e subordinou o "desenvolvimento do país aos interesses da Vinci".
Salientando que a privatização da ANA continua a ter impactos hoje, Paulo Raimundo considerou que isso se verifica, por exemplo, na construção do novo aeroporto de Lisboa, porque é "na ANA privada que está a força de bloqueio" para a sua concretização, uma vez que a Vinci, detentora da ANA, quer continuar a "explorar a Portela enquanto lhe for possível".
"Na verdade, depois do assalto que representou a privatização da ANA, está neste momento em curso um novo assalto, agora a pretexto da construção do novo aeroporto que há muito já deveria estar concluído e construído", afirmou.
Paulo Raimundo considerou que, desde que a Comissão Técnica Independente (CTI) considerou que o Campo de Tiro de Alcochete era a melhor localização para o novo aeroporto de Lisboa, "o Governo do PSD/CDS e a Vinci têm-se multiplicado em propaganda, manobras, falsas e simuladas discordâncias, tudo alinhado e tudo no caminho que interessa à Vinci".
"Diz o Governo que a construção de um novo aeroporto não terá custos para os contribuintes. Uma afirmação falsa, mentirosa, que só é possível para servir as multinacionais e não o país", acusou, afirmando que o executivo, "com base em estudos e avaliações que mais parecem feitas à medida, prepara-se para transferir para a Vinci mais uns milhares de milhões de euros em rendas com o prolongamento das construções dos aeroportos e das portagens das pontes sobre o Tejo".
"Tudo isto não para que a Vinci faça aquilo a que a que está obrigada, mas sim para que concretize a primeira fase do novo aeroporto, aliás a única fase que interessa à Vinci, porque é aquela que permite manter em funcionamento o aeroporto da Portela", disse.
Para Paulo Raimundo, "a Vinci empenha-se em não cumprir as suas obrigações e, perante esta realidade, aquilo que o Governo faz é dar-lhe mais prémios e mais favores".
"Este Governo, com o silêncio cúmplice de outras forças políticas, ofereceu à Vinci por 40 anos a gestão do aeroporto Figo Maduro, autorizou a ampliação da Portela até 45 milhões de passageiros e já admitiu que a Portela continue a funcionar até 2037, ou seja, 20 anos depois da estimada inauguração do novo aeroporto de Lisboa", criticou, acusando o executivo de parecer "uma verdadeira comissão de gestão dos interesses da Vinci", acusou.
Paulo Raimundo defendeu assim que o livro hoje apresentado pelo PCP "continua mais atual do que nunca" e criticou o PSD, PS, Chega, IL e CDS por terem chumbado, em abril, a proposta do PCP para a constituição de uma comissão de inquérito à privatização da ANA.
"Chumbaram a comissão, mas não chumbaram os factos, as mentiras e os objetivos que estão por detrás desta operação. Sabemos o que fizeram não no verão passado, mas há 12 anos e sabemos a razão pela qual querem esconder esse mesmo processo", afirmou.
Raimundo afirmou que o livro é "um alerta para que o maior número de pessoas possível tenha consciência sobre os anteriores processos de privatização" e serve de contributo para impedir que "este e outros governos prossigam este caminho noutros setores", em particular na TAP.
"É importante que estes dados sejam conhecidos e que os autores materiais do crime sejam politicamente e judicialmente responsabilizados por aquilo que fizeram", disse.
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