O líder parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Soares, afirmou, esta terça-feira, que, se o Governo cair devido à polémica que envolve a empresa familiar do primeiro-ministro, Luís Montenegro será o candidato do partido.
"Mas há alguma dúvida de que, se houver eleições, ele será o candidato do PSD a primeiro-ministro? Eu não tenho", atirou, após ter sido questionado numa entrevista à SIC Notícias.
"Sou secretário-geral do PSD e tenho a certeza absoluta que o PSD todo está com o presidente do PSD", acrescentou.
Defendendo que Luís Montenegro "ganhará" umas eventuais eleições legislativas, Hugo Soares alertou que "o país não está para eleições" porque "precisa de estabilidade".
"O país está a assistir incrédulo a esta fantochada política que alguns estão a criar", atirou.
Já questionado se o antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, poderá vir a substituir Luís Montenegro, Hugo Soares assegurou que "se houver eleições legislativas em Portugal - que eu espero que não haja - o candidato [do PSD] a primeiro-ministro será o grande primeiro-ministro que temos: Luís Montenegro".
O deputado defendeu, contudo, que estão a ser "colocados cenários em cima de cenários" e não quis "comentar cenários hipotéticos".
Hugo Soares afirmou também que foi criado um "clima político que impossibilita o primeiro-ministro de falar ao país do que quer que seja que interesse às pessoas porque está constantemente a ter de responder" às questões dos jornalistas.
Sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito anunciada pelo Partido Socialista (PS), na segunda-feira, o deputado disse "não ter dúvidas" de que Luís Montenegro "responderá a todas as perguntas", mas afirmou que o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, "podia ter perguntado por escrito as dúvidas que tivesse" e não o fez.
"Pedro Nuno Santos anunciou, sem fazer uma pergunta por escrito e já depois de ter a resposta às questões orais que fez, uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Pedro Nuno Santos não quer saber a resposta a coisa nenhuma, quer chicana política", atirou.
Hugo Soares deixou um apelo "ao partido responsável que é o Partido Socialista": "Não crie mais desgaste nem prejudique mais o país. Vote amanhã [a favor] a moção de censura do Partido Comunista Português (PCP) se não confia no primeiro-ministro".
O secretário-geral do PSD defendeu ainda que o primeiro-ministro "é tão sério como os outros" e lembrou que houve outros governantes a ter negócios enquanto exerciam funções.
"Vou dar um exemplo que o país se tem esquecido: Mário Soares foi primeiro-ministro e Presidente da República, em regime de exclusividade. Mário Soares e a esposa eram donos do Colégio Moderno", disse, referindo-se ao colégio fundado por João Lopes Soares, pai de Mário Soares, em Lisboa.
E acrescentou: "Estou numa casa [a SIC] que tem como sócio maioritário uma pessoa que eu muito prezo, que foi fundador do meu partido - Francisco Pinto Balsemão. Foi primeiro-ministro e era dono do Expresso. Alguém lhe pediu para vender o Expresso?"
"Vale a pena pensarmos no que queremos fazer a um homem que é tão sério pelo menos como os outros", atirou.
Sublinhe-se que a Assembleia da República discute e vota esta quarta-feira, a partir das 15h00, uma moção de censura ao Governo, destinada ao chumbo, tendo em conta Pedro Nuno Santos já anunciou que não pretende viabilizá-la.
A moção, com o título 'Travar a degradação nacional, por uma política alternativa de progresso e de desenvolvimento', foi anunciada pelo PCP após o primeiro-ministro ter feito uma declaração ao país no sábado à noite na qual admitiu avançar com uma moção de confiança ao Governo se os partidos da oposição não esclarecessem se consideram que o executivo "dispõe de condições para continuar a executar" o seu programa.
Montenegro fez esta declaração após ter sido noticiado pelo semanário Expresso que a empresa Spinumviva - até sábado detida pela sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e filhos -, recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde, que representou como advogado antes de ser presidente do PSD.
Já na segunda-feira, o Correio da Manhã noticiou que o primeiro-ministro utilizou "várias contas à ordem de valor inferior a 41 mil euros, que a lei não obriga a declarar, para pagar a casa que comprou em Lisboa, em 2024", enquanto a revista Visão avançou que Luís Montenegro "infringiu as regras de declaração de rendimentos" à Entidade para a Transparência.
Posteriormente, o primeiro-ministro anunciou que vai pedir à Entidade para a Transparência que audite a conformidade das suas declarações e respetiva evolução, assegurando ter cumprido todas as obrigações declarativas.
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