"Querem saber tanta coisa numa comissão parlamentar de inquérito. Quantas perguntas fez, por escrito, Pedro Nuno Santos ao Governo e ao primeiro-ministro de Portugal na prerrogativa do uso que tem como deputado? Não o fez porque só quer a chicana política, só quer tentar apodrecer o Governo e atirar à idoneidade do primeiro-ministro", acusou o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, no debate da moção de censura ao Governo apresentada pelo PCP.
Na sua intervenção, que em alguns momentos foi aplaudida de pé pelos deputados social-democratas, Hugo Soares evocou dois históricos da democracia, Mário Soares (PS) e Francisco Pinto Balsemão (PSD), para defender o primeiro-ministro, Luís Montenegro.
O social-democrata lembrou que "Mário Soares foi primeiro-ministro, era sócio e dono de um colégio que a esposa geria" e que Francisco Pinto Balsemão, "fundador do PPD-PSD, foi primeiro-ministro, era sócio e dono do maior, e na altura, o único semanário que havia em Portugal de referência da política nacional", e que "nunca este parlamento levantou um problema nem de exclusividade nem de conflito de interesses".
"Mas espantem-se, portugueses, já não é o facto de ser sócio que não é que podia ser, já não é o facto de não estar na empresa, é o facto de ser casado com uma das sócias. Provavelmente preferem aqueles que se escondem atrás de divórcios de fachada ou que prometem vender a outros para que ninguém saiba o que têm", criticou.
Hugo Soares continuou, deixando uma questão: "Mas já alguém perguntou, aos deputados ou aos membros do Governo que estão aqui em exclusividade, que são casados ou em comunhão geral de bens ou em comunhão de adquiridos, quando vão ao restaurante e é a vossa mulher que paga o almoço ou o jantar, os senhores estão a violar a exclusividade porque a vossa mulher também trabalha, também tem vida, também tem rendimentos, que é do vosso património?"
Na opinião do social-democrata, isto "é a política levada ao ridículo".
Hugo Soares afirmou ainda que "o maior escrutínio é o do povo" e "quem não quer uma crise política assume no momento em que se votar a moção de confiança deste Governo, que é pela estabilidade, que confia na idoneidade e na seriedade do primeiro-ministro".
"Ou então a crise política tem um responsável: quem lança lama e quem vota contra a moção de confiança", rematou.
Na resposta, a deputada Marina Gonçalves defendeu que "a crise política" e a "desconfiança nas instituições" tem como único responsável o primeiro-ministro.
"Não acha que o povo merece, com alguma humildade, que esses esclarecimentos sejam dados? É que é só isso que o PS quer", atirou a socialista.
Momentos antes, também o vice-presidente da bancada do PS Pedro Delgado Alves tinha defendido a pertinência e a legalidade de constituir uma comissão parlamentar de inquérito sobre a polémica que envolve a empresa familiar de Luís Montenegro, após a "muralha de silêncio" que o Governo levantou perante "perguntas legítimas".
Pedro Delgado Alves afirmou que subsistem dúvidas sobre "os termos em que o primeiro-ministro exerceu funções desde abril de 2024 e as matérias que eventualmente deveriam ter sido declaradas e podem não ter sido perante a Entidade para a Transparência e outras entidades".
"Das 37 perguntas que conseguimos fazer o diagnóstico de terem sido colocadas oralmente em debate parlamentar, por escrito por algumas forças políticas e pela comunicação social, até o momento o senhor primeiro-ministro deu uma resposta completa, oito parcialmente respondidas e vinte e nove continuam por responder", salientou.
Durante um período de várias declarações políticas, o deputado do PCP Alfredo Maia defendeu que o Governo deveria "cessar de imediato a sua ação nefasta" e o presidente da IL, Rui Rocha, considerou Montenegro "podia ter resolvido este problema no início" mas "entre a Spinumviva e o país, decidiu pela Spinumviva". Quanto a eleições, afirmou: "Vamos a elas".
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