"Não posso esconder que fico um pouco preocupado por várias razões. A primeira é que a localização da estação de Gaia, e em particular o facto de ter ligação a duas linhas do Metro do Porto, a linha Rubi e a linha Amarela, era um dos aspetos mais importantes da forma como o projeto foi pensado", disse hoje à Lusa Frederico Francisco.
Em causa está uma proposta do consórcio LusoLav (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto) de mudança para sul, em cerca de um quilómetro e meio, da estação de alta velocidade ferroviária em Vila Nova de Gaia, de Santo Ovídio para uma localização em Vilar do Paraíso, que implicaria a perda de uma ligação direta à linha Amarela, mas uma extensão da Linha Rubi.
Para o ex-secretário de Estado, que tutelava a área quando foi lançado o concurso público do troço Porto - Oiã, ainda no Governo de António Costa (PS), "do ponto de vista das características funcionais do projeto, esta alteração, se não for assegurado o mesmo tipo de funcionalidade [...], altera a acessibilidade, altera o nível de procura que a estação gera, altera muitos dos pressupostos do projeto".
"De certa forma, a razão de existir da estação em Gaia" é a sua presença como "a primeira estação no Porto e que dava acesso mais fácil à zona ocidental e central da cidade do Porto", já que, "com a linha Rubi, acede-se à zona do Campo Alegre, à zona da Boavista, e com a Linha Amarela à Baixa do Porto, ao Polo Universitário da Asprela, ao Hospital de São João".
Frederico Francisco manifestou-se ainda preocupado quanto a "perceber se é sequer possível nesta fase, quando foi lançado um concurso com um determinado caderno de encargos que tinha uma determinada solução [...], estar-se a alterar a solução que foi colocada a concurso", reconhecendo não saber "o suficiente de contratação para perceber se juridicamente seria ou não possível".
"Mas é uma preocupação que também deixo, de isto estar a gerar alguma instabilidade nesta fase inicial, numa fase em que o contrato [de concessão] ainda não foi sequer assinado", refere.
O antigo secretário de Estado assinala que "uma coisa é haver alteração num processo construtivo de uma ponte, ou se um túnel é bi-tubo ou monotubo, ou se a linha passa uns metros mais ao lado para evitar um determinado achado arqueológico", mas outra são "coisas que alteram funcionalmente o projeto [...] ao nível do planeamento estratégico".
Para Frederico Francisco, as estações devem estar nos centros das cidades, até porque estações periféricas feitas noutros países, sem potenciar efeitos de rede, "têm poucos passageiros, têm pouca utilização", por esta não ser tão "atrativa".
Quanto à questão de passar de uma ponte rodoferroviária para duas, relembra que a solução de uma ponte foi amplamente discutida com Gaia e Porto, para que fosse a "melhor do ponto de vista de preservar ou até de melhorar a paisagem".
"Tudo isto foi discutido e apresentado aos municípios em separado, discutido com os municípios em conjunto, em diversas reuniões ao nível técnico, houve reuniões com os presidentes de câmara em que eu próprio participei e em que se chegou à solução de ser uma ponte única", também do "ponto de vista económico".
As propostas do consórcio eram desconhecidas pela Câmara do Porto, IP, Governo e Metro do Porto.
Sobre o projeto da alta velocidade, que classifica como o "mais importante da primeira metade do século XXI em Portugal", observa que "tem vindo, no último ano, a sofrer algumas vicissitudes".
"Temos esta questão agora, temos a questão do concurso para o segundo troço que teve uma única proposta que não foi válida, e portanto tudo aquilo que coloque 'areia na engrenagem' deste projeto, para mim, gera muita preocupação", insistiu.
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