"É uma luta que temos que travar. Refletir no que se passa no futebol português e europeu e levantar questões paradigmáticas de situações que têm que ser resolvidas. Desde já a transparência", considerou André Villas-Boas.
O presidente portista apontou, no caso concreto do FC Porto, o 'desaparecimento' do jovem jogador formado no clube Cardoso Varela, de 15 anos, antes de se tornar profissional, para um clube amador croata da quarta divisão.
"Não viraremos a cara à denúncia, à cooperação ativa com as autoridades e as instâncias judiciais. Assim o temos feito diariamente", disse André Villas-Boas, que falava na sessão inaugural do 10.º aniversário da Convenção do Conselho da Europa sobre a Manipulação de Competições Desportivas (Convenção Macolin).
O presidente adianta que o clube a que preside quer e deseja que "as entidades nacionais governamentais e instituições desportivas invistam cada vez mais na autorregulação, na execução da lei, mas também sejam capazes de passar da omissão e da passividade para a condenação pública e judicial".
"Hoje, urge a ação e não o silêncio. Muito respeitamos o trabalho que nos trouxe até aqui e estamos carregados de expectativas. O 'terreno' precisa de mais apoio, de ver consequências reais e efetivas, de ter razões palpáveis para dizer de peito aberto que no desporto, efetivamente, o crime não é compensador", disse.
André Villas-Boas apontou que atos de violência, corrupção, discriminação, resultados combinados e apostas ilegais estão ligados aos tempos que não se quer de volta ao futebol português e em que os seus verdadeiros adeptos não se reconhecem.
"O FC Porto estará no centro dessas discussões críticas que marcarão o futuro. Seremos um ator ativo, não nos demitiremos nunca da nossa responsabilidade", assegurou, apontando exemplos concretos da sua aplicação.
Um desses exemplos é o portal da transparência que o FC Porto lançou e no qual tornou pública toda a informação relevante sobre matérias institucionais, organizacionais, económico-financeiras, de planeamento e contratuais.
"Em conformidade com os mais elevados padrões internacionais de transparência e acesso à informação, prestamos contas. Tornamos transparente todas as formas e proveniências de financiamento, a rastreabilidade das transferências de atletas e a natureza dos contratos: um tampão a qualquer operação que favoreça a criação de terreno fértil à corrupção", adianta.
A própria UEFA, segundo o líder portista, elogiou publicamente este passo que o clube deu "em nome da integridade" e que espera se torne uma regra: discrição e secretismo no decorrer de negócios não têm de terminar em opacidade".
O segundo exemplo que André Villas-Boas partilhou diz respeito ao jogador Cardoso Varela, de 15 anos, português, de origem africana, "que estava a ser formado no FC Porto e que foi vítima de um processo nebuloso que tem que ter um epílogo que sirva de desincentivo ao crime".
"Próximo de poder assinar o seu contrato profissional, caiu nas malhas de supostos agentes, que, aproveitando a debilidade financeira da família, o desviaram, obrigando-o a fugir do clube que garantia a sua integridade, a troco de uma quantia monetária não compensatória e uma vinculação a uma contratualização leonina que hipoteca o seu futuro desportivo", adiantou.
O presidente dos 'dragões' referiu que o clube "recusou entrar num leilão desumano" pelo jogador, "em que os maiores beneficiários seriam agentes que ignoram a vertente humanista do desporto e clubes que não cuidam verdadeiramente dos seus atletas".
"Pelo contrário, investimos os nossos esforços na recuperação do jovem, envolvemos as autoridades policiais e jurídicas nacionais e internacionais, promovemos processo junto das instâncias reguladoras, como as instâncias da FIFA. A razão está do nosso lado e esperamos que este caso seja um dos últimos em que jovens jogadores não são protegidos de interesses obscuros", sustentou.
Para André Villas-Boas a integridade do desporto começa no indivíduo, enquanto criança em formação, mas exposta ao mundo, e o caminho da formação é aquele em que mais o FC Porto investe.
O FC Porto promove regularmente ações de formação em 'match fixing' (viciação de resultados), sobre as leis do jogo e educação, ética desportiva, para os pais, formação sobre psicologia e sustentabilidade para os treinadores e formação para os jovens atletas sobre redes sociais, que é a porta de entrada de muitas ameaças.
"Por último, e tocando no ponto do ataque à integridade das competições desportivas e à sua manipulação, uma declaração é obrigatória: o FC Porto só se relaciona com operadores autorizados e reconhecidos legalmente que atuem na área das apostas desportivas", concluiu o líder 'azul e branco'.
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