Estudo verificou que os centenários (entre os 100 e os 104 anos e isentos de doenças e da toma de fármacos) tinham a barreira intestinal menos comprometida do que as pessoas com menos de 40 anos e que tinham sofrido um enfarte do miocárdio.
No estudo, que envolveu cientistas de Espanha, Itália, Suécia e Portugal, estudou-se a possível associação entre dois marcadores de permeabilidade intestinal - a endotoxemia e a zonulina - e o envelhecimento saudável.
A permeabilidade intestinal, como o Dr. Pedro Carrera Bastos, investigador português envolvido neste estudo, explicou ao Lifestyle ao Minuto, “ocorre quando a barreira intestinal está frágil e há a probabilidade de ocorrer a passagem de determinadas substâncias para o sangue”.
Isto pode ser especialmente prejudicial, pois “algumas dessas substâncias podem ativar o sistema imunitário e a partir daí desencadear uma resposta inflamatória. A inflamação, quando se converte em crónica, pode levar a muitas alterações, nomeadamente à diabetes, à doença cardiovascular, hipertensão, perda de massa muscular e óssea. Hoje sabe-se que a inflamação está na base de muitas doenças."
O especialista destaca que o facto de terem verificado que os centenários tinham uma menor permeabilidade intestinal “vem mostrar a importância de manter uma barreira intestinal íntegra ao longo do tempo”.
“Sabe-se que uma dieta inadequada, o consumo excessivo de álcool, a desidratação, o uso abusivo de anti-inflamatórios, entre outros fatores, comprometem essa barreira intestinal”, refere Pedro Bastos, investigador português, atualmente em doutoramento na Universidade de Lund, Suécia.
Este estudo verificou que os centenários analisados tinham níveis mais baixos de zonulina em comparação com os jovens que tiveram um enfarte do miocário. A zonulina é uma das principais proteínas envolvidas na manutenção da integridade da barreira intestinal, pelo que níveis elevados desta proteína no sangue constituem um marcador de permeabilidade intestinal. “O que sugere que manter uma barreira intestinal íntegra pode ser um dos segredos da longevidade”, diz Pedro Bastos.
Um segundo marcador analisado neste estudo foi a endotoxemia – que resulta da absorção para a circulação de um composto (endotoxina) existente em bactérias que habitam, por exemplo, o intestino – cujo principal fator de risco é a permeabilidade intestinal aumentada e o principal efeito é o aumento da probabilidade de inflamação crónica.
Nesta investigação, os níveis séricos de endotoxina eram menores em centenários do que em jovens que já tinham experienciado um enfarte e inclusive em jovens saudáveis sem doenças aparentes.
“É importante distinguir envelhecimento de envelhecimento saudável e este estudo traz pistas sobre qual será o possível caminho de longevidade com saúde. Esta investigação carece, porém, de confirmação por outros estudos”, refere o investigador Pedro Bastos.
No entanto, destaca que as conclusões deste estudo abrem portas para que se faça um estudo mais exaustivo sobre a ligação entre a barreira intestinal saudável e a super longevidade com saúde.
Para este estudo, publicado na revista científica Aging & Disease, foram analisadas amostras retiradas de 79 centenários (entre os 100 e os 104 anos) – 39 homens e 40 mulheres – que não tinham nenhuma doença aparente para além de uma pequena perda de visão e audição, típica da idade. As primeiras foram comparadas com 178 pessoas com menos de 40 anos que tinham tido um enfarte – em que 70% fumava, 35% tinha hipertensão, 21% era obeso - e com 178 pessoas com menos de 40 anos que eram saudáveis – 25% eram fumadores moderados.