Investigadores nos EUA telefonam todos os dias aos infetados e suspeitos
Investigadores de saúde nos Estados Unidos da América tentam criar mapas de prevenção da covid-19 através de telefonemas diários aos infetados para agregar informação sobre os contactos presenciais que tiveram, assumindo um papel de detetive, terapeuta ou confidente.
© Getty Images | Noam Galai
Mundo Covid-19
Os investigadores, muitos deles enfermeiros, lidam com 30 a 40 casos e tentam chegar às pessoas que estiveram pessoalmente, durante mais de dez minutos, a menos de 1,8 metros de distância da pessoa originalmente infetada.
Muitas vezes, os rastreadores de contactos enfrentam a desconfiança, as meias-verdades, as barreiras linguísticas ou o desconforto das famílias em situações complicadas, escreve a agência noticiosa AP.
A investigadora de saúde Mackenzie Bray sorri enquanto conversa ao telefone com um pensionista de Utah que testou positivo para o coronavírus.
Tenta manter um clima leve, porque precisa de saber onde esteve o infetado e com quem teve contacto nos últimos sete dias.
Com perguntas delicadas, Mackenzie Bray conduz o interrogatório, nomeadamente para saber onde é que o homem e a mulher pararam para comprar flores na visita a um cemitério. Encoraja-o também a consultar o extrato bancário, para ajudar a lembrar-se de alguma ida às compras.
No meio da conversa, a mulher de Mackenzie diz que receberam familiares em casa para o Dia da Mãe.
"Havia algum prato de comida para partilhar ou algo assim?" pergunta Bray.
"Havia, ok... Compartilhar comida ou bebidas, mesmo que só estejam na mesma mesa, [o vírus] pode espalhar-se dessa maneira", explica.
De repente, por causa de uma taça de comida partilhada, a rede expande-se e Bray tem de rastrear outras dezenas de pessoas com um interrogatório idêntico.
No país com maior número de infetados e maior número de mortos por covid-19 do mundo, investigadores de saúde como Mackenzie Bray desempenham o importante papel de contactar e avisar as pessoas que possam ter estado em contacto com o vírus.
A primeira chamada de rastreamento telefónico pode ser chocante para as pessoas contactadas. Por vezes, são os investigadores de saúde que dão a notícia de que alguém foi exposto ou testou positivo para a covid-19.
A prática do chamado 'rastreamento de contacto' exige um trabalho híbrido de interrogador, terapeuta e enfermeiro, enquanto se tenta a honestidade das pessoas mais nervosas.
O objetivo é criar um mapa ou roteiro de todos os lugares onde as pessoas infetadas estiveram e quem estava por perto.
Bray desempenha este tipo de trabalho para contactar pessoas com doenças sexualmente transmissíveis. Atualmente, é uma das 130 pessoas do departamento de saúde do condado de Salt Lake designadas para rastrear casos de coronavírus na área.
As chamadas podem durar mais de 30 minutos, à medida que se responde meticulosamente a uma lista de perguntas.
"Encontro sempre pessoas que mentem" disse outra investigadora, Maria DiCaro, à agência AP. "Tento obter o máximo de informações desde o início, mas nem sempre é o caso. E o tempo é uma daquelas coisas que não se podem recuperar quando se tenta prevenir".
Algumas pessoas mentem porque estão assustadas ou esquecem uma saída que fizeram.
Trabalhadores da construção civil, empregadas domésticas e outras pessoas sem seguro de saúde podem encobrir os sintomas da covid-19, para que possam voltar ao trabalho. Alguns imigrantes sem documentação dispensam fazer o teste, com medo de que isso os leve à deportação.
"É normal conversar com o médico, mas nunca esperas que o departamento de saúde te ligue e diga: 'estiveste exposta a uma doença grave'", disse Anissa Archuleta.
A mulher, de 23 anos, recebeu um telefonema da investigadora DiCario depois de ter participado numa festa de aniversário, com a mãe e a irmã, em que os convidados passavam de carro ('drive-by').
Anissa Archuleta, a mãe e a irmã deixaram um presente e aceitaram o convite não planeado de entrar e petiscar.
O que não imaginavam era que o pai do aniversariante tinha o coronavírus e, sem saber, expôs mais de uma dúzia de pessoas no encontro.
Depois do primeiro telefonema, DiCaro continuou a chamar para fazer controlos todos os dias por duas semanas. O medo diminuiu quando os testes para o coronavírus resultaram negativos.
Na primeira semana das chamadas, Archuleta agradeceu a DiCaro por se preocupar com elas e por fazer o controlo todos os dias.
DiCaro emocionou-se: "Quando fazes isto durante dez ou 12 horas diariamente... É bom receber essas reações positivas de pessoas muito gratas que veem o propósito do que fazemos", disse DiCaro. "É bom ser apreciado".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 330 mil mortos e infetou mais de cinco milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (94.729) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,5 milhões).
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