Joe Biden fala hoje sobre caótica evacuação de Cabul por entre críticas

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenciona hoje, por entre uma tempestade de críticas, falar sobre a caótica retirada de norte-americanos e aliados do Afeganistão, que enfrenta obstáculos como barricadas talibãs armadas e questões burocráticas de documentação.

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© JIM WATSON/AFP via Getty Images

Lusa
20/08/2021 15:58 ‧ 20/08/2021 por Lusa

Mundo

Afeganistão

Embora Biden tenha anteriormente culpado os afegãos pelo falhanço dos Estados Unidos em retirar mais aliados de território afegão antes da repentina tomada do poder pelos talibãs este mês, responsáveis norte-americanos disseram à agência noticiosa Associated Press (AP) que diplomatas norte-americanos tinham formalmente instado há várias semanas a administração Biden a acelerar os esforços de evacuação.

Há ainda dezenas de milhares de pessoas para serem retiradas do Afeganistão antes do prazo de 31 de agosto fixado pelos Estados Unidos para a conclusão da retirada das suas tropas do país, apesar de o ritmo ter acelerado de um dia para o outro.

Um responsável da Defesa indicou que cerca de 5.700 pessoas, incluindo cerca de 250 norte-americanos, foram transportadas para fora de Cabul a bordo de 16 aviões C-17. E em cada um dos dois dias anteriores, cerca de 2.000 pessoas partiram na ponte aérea.

Biden vai reunir-se com a sua equipa de segurança nacional sobre as evacuações e falará ao país hoje à tarde, a partir da Casa Branca.

Além das críticas que lhe são dirigidas por alguns congressistas, que dizem que os Estados Unidos falharam em fazer planos adequados para uma rápida tomada do poder pelos talibãs, os diplomatas norte-americanos expressaram discordância.

Em julho, mais de 20 diplomatas da embaixada de Cabul comunicaram as suas preocupações de que a retirada dos afegãos que tinham trabalhado para os Estados Unidos não estava a decorrer com rapidez suficiente.

Num telegrama enviado através do canal de divergência do Departamento de Estado, um método consagrado pelo tempo para responsáveis do serviço estrangeiro comunicarem a sua oposição a políticas do Governo, os diplomatas disseram que a situação no terreno era difícil, que os talibãs iriam provavelmente tomar a capital meses após a retirada de 31 de agosto e instaram a administração Biden a iniciar imediatamente um esforço concertado de evacuação. Isto, de acordo com responsáveis com conhecimento do documento, citados pela AP a coberto do anonimato.

Biden tem dito que o caos que se seguiu como parte da retirada era inevitável, ao chegar-se ao fim de uma guerra de quase 20 anos.

Afirmou estar a seguir os conselhos do Presidente afegão apoiado pelos Estados Unidos, Ashraf Ghani, ao não aumentar mais cedo os esforços norte-americanos para transportar para fora do país tradutores e outros afegãos em perigo por terem trabalhado com os norte-americanos.

Ghani fugiu do país no domingo passado, quando os talibãs tomaram a capital.

O Presidente norte-americano disse também que muitos aliados afegãos em risco não tinham querido abandonar o seu país. Mas grupos de refugiados apontam para anos de listas com registos de pedidos feitos por milhares de afegãos de vistos que lhes permitissem refugiar-se nos Estados Unidos.

O Governo norte-americano tem igualmente retratado os seus planos de contingência como bem-sucedidos, depois de o Governo afegão ter caído muito mais depressa do que o publicamente previsto pelos responsáveis governamentais. No entanto, a Casa Branca recebeu avisos claros de que a situação estava a deteriorar-se rapidamente antes do esforço de evacuação agora em curso.

O Aeroporto de Cabul tem sido o centro de intensos esforços internacionais para retirar estrangeiros, mas também aliados afegãos e outros afegãos mais em risco de ser alvo de represálias por parte dos talibãs.

Com os talibãs a controlar a capital afegã, incluindo o perímetro exterior do aeroporto, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, declarou que os cidadãos norte-americanos estão a conseguir chegar ao aeroporto, mas deparam-se muitas vezes com multidões junto aos portões do aeroporto.

Na quinta-feira, os talibãs dispararam para o ar para tentar controlar a multidão concentrada junto aos muros do aeroporto. Homens, mulheres e crianças fugiram.

Aviões de combate da Marinha norte-americana sobrevoaram a zona, uma precaução militar padrão, mas também um lembrete aos talibãs de que os Estados Unidos têm capacidade de fogo para responder a uma crise de combate.

Sullivan admitiu que existe a possibilidade de uma situação de reféns ou atentado terrorista, embora o Governo tenha estado em contacto para garantir passagem segura para os cidadãos norte-americanos.

A administração Biden está empenhada em assegurar que todos os norte-americanos conseguem abandonar o Afeganistão, mesmo que isso signifique que os militares têm de ficar para além do prazo de 31 de agosto.

"Esta é uma operação arriscada. Não podemos contar com nada", disse Sullivan à estação NBC News na quinta-feira.

Não existe um registo fidedigno do número de pessoas -- norte-americanos, afegãos e outros -- que precisam de ser retirados, sendo o processo quase inteiramente por auto-seleção.

O Departamento de Estado diz que quando deu ordens ao seu pessoal não-essencial da embaixada para abandonar Cabul, em abril, após o anúncio de retirada das tropas feito por Biden, menos de 4.000 cidadãos norte-americanos se tinham registado para atualizações de segurança.

O número real, incluindo cidadãos norte-americanos-afegãos e respetivas famílias, é provavelmente bastante mais elevado, com estimativas oscilando entre 11.000 e 15.000. Grupos defensores de refugiados estimam em cerca de 100.000 os aliados afegãos e suas famílias que estão a pedir lugares na ponte aérea dos Estados Unidos.

Para agravar a incerteza, o Governo norte-americano não tem maneira de contabilizar quantos cidadãos norte-americanos já abandonaram o Afeganistão. Alguns podem ter regressado aos Estados Unidos, mas outros podem ter ido para países terceiros.

Embora o Afeganistão tenha sido um local crítico para a pandemia de covid-19, o Departamento de Estado indicou na quinta-feira que não é exigido aos retirados do país que apresentem teste negativo para a doença.

Mais tropas dos Estados Unidos continuam a chegar ao aeroporto para salvaguardar e dirigir a parte norte-americana da evacuação. Desde quinta-feira, encontram-se lá 5.200, incluindo fuzileiros navais especializados em coordenação de evacuações e uma unidade da Força Aérea especializada em operações de emergência em aeroportos.

Biden autorizou um destacamento total de 6.000 militares.

Leia Também: Biden debateu com equipa de segurança nacional ameaças terroristas

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