"Eu trabalho com crianças sírias como professor de alemão. As pessoas desconhecem os dramas desta gente. Uma vez, pedi às crianças para desenharem o sítio onde viviam, mas não foram capazes de fazer nada porque simplesmente as casas em Damasco ou em outras partes da Síria foram bombardeadas e desapareceram", diz Markus Beyus, 44 anos apoiante dos Verdes.
O professor de alemão recorda que a cidade de Dresden, Saxónia, foi severamente bombardeada em 1945 pelos britânicos e que morreram mais de vinte mil pessoas.
Por isso, diz, os habitantes da cidade deviam compreender "mais do que ninguém na Alemanha" o drama dos refugiados e dos migrantes que procuram o país como refúgio ou local para recomeçar uma nova vida.
"Este devia ser um tópico da campanha eleitoral aqui na Alemanha mas fala-se pouco da integração. O meu medo é que a direita tenha muitos votos nas eleições de domingo, sobretudo com os votos desta parte da Alemanha (ex-RDA) onde existe uma forte implantação da extrema-direita", diz Markus sublinhando que é "impossível" perceber o radicalismo.
"Não percebo porque motivo a extrema-direita quer viver fora do sistema. No limite não vai conseguir nada. A extrema-direita não gosta de pessoas de fora. É um paradoxo porque geralmente é um fenómeno que acontece em regiões como esta onde não vivem muitos estrangeiros. Eles nunca veem ninguém e depois odeiam todos aqueles que são de fora", lamenta elogiando a chanceler Angela Merkel pela "determinação" durante a crise migratória.
"Fiquei bem impressionado em 2015 com a chanceler Merkel pelas atitudes que tomou sobre os refugiados. Ela que é de um partido conservador soube dizer 'não' e decidiu ajudar as pessoas e isso impressionou-me porque foi uma posição humanista, não foi uma questão meramente política", considera o apoiante dos Verdes.
Nos últimos dias o professor tem acompanhado o debate eleitoral centrado nas propostas do candidato social-democrata (SPD) que apontou como objetivos a subida do salário mínimo para 12 euros por hora, a habitação social e a "modernização do país"
O atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz propôs mudanças e também se referiu recentemente à questão das alterações climáticas mas o discurso do SPD não convence o professor de alemão apoiante dos Verdes.
"A indústria na Saxónia, por exemplo, não está ao mesmo nível do resto do país, assim como os salários que não são iguais apesar dos preços dos produtos ou da renda de aluguer de uma casa serem os mesmos. Isto não é justo porque aqui, na prática, temos de pagar mais pelas mesmas coisas", critica.
Para Beyus, na Alemanha não é preciso "perceber-se muito de economia", mas quando os assuntos estão relacionados com desemprego, inflação ou finanças a sociedade "não ouve mais nada".
"É uma questão de cultura. Para nós a economia é como uma 'deusa' e às vezes não percebemos que assuntos como as energias renováveis podem criar novos empregos", diz o professor de Dresden.
Markus tinha apenas nove anos na altura da reunificação, em 1990, e recorda pouco do regime comunista da ex-RDA.
"Havia uma coisa boa de que me lembro. A minha família podia comprar produtos em lojas que tinham produtos ocidentais, mas tínhamos de pagar com marcos de República Federal. O meu pai conseguia cambiar uma pequena parte do que ganhava", recorda.
Junto à porta principal da antiga fábrica de tabaco (Yenidze) está a ser instalada novamente uma antiga escultura em alto-relevo em granito que retrata as "glórias" de um plano quinquenal da economia planificada da ex-RDA.
"Não é uma boa ideia mudar todos os monumentos. Parte da nossa história deve continuar aqui", diz o professor apoiante dos Verdes e que se encontrava a ler o livro "Jimy Hendrix live in Lemberg" ("Jimy Hendrix vive em Lemberg").
"Este livro (do escritor ucraniano Andrej Kurkow) fala do tempo em que o guitarrista de rock americano viveu em Lemberg. É claro que é tudo invenção, Lemberg fica na Ucrânia e Hendrix nunca viveu na Ucrânia. É uma história sobre um agente do KGB que durante o tempo da União Soviética inventou tudo para vigiar os jovens locais. São coisas sobre comunistas, aqui gostamos destas histórias", disse o professor que continuou sentado junto ao alto-relevo do plano quinquenal, que também já não existe.
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