Segundo Teresa Anderson, que coordena a política climática na ActionAid International, apenas quatro representantes das milhares de ONG acreditadas para a 26.ª Conferência nas Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que decorre até 12 de novembro na cidade escocesa de Glasgow, foram autorizados a acompanhar as negociações.
"Impedir a sociedade civil de vigiar e responsabilizar os governos pode ter consequências reais para as comunidades na linha da frente da crise climática que estão a sofrer", afirmou, citada pela agência noticiosa francesa AFP.
Segundo as regras da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, as organizações da sociedade civil podem assistir às reuniões mundiais sobre o clima enquanto observadores, inclusive nas salas onde decorrem as negociações, para permitir a transparência do processo.
A COP26 foi adiada um ano devido à pandemia da covid-19, que impõe agora restrições no acesso à cimeira.
O presidente da COP26, Alok Sharma, tem reiterado que quer uma conferência "o mais inclusiva possível".
Contudo, há peritos que acabam por deslocar-se a Glasgow para assistir apenas a reuniões e conferências de imprensa virtuais.
"É um desastre ver a sociedade civil a não ter acesso a reuniões cruciais, e muitos dos seus representantes nem mesmo podem entrar no local da COP", disse à AFP Mohamed Adow, da organização Power Shift Africa.
De acordo com o jurista do Centro de Direito Ambiental Internacional Sebastien Duyck, "as restrições da covid-19 não podem justificar o facto de a rede [das ONG] não ter acesso às negociações".
Desde que começou a COP26, no domingo, os delegados aguardam a sua vez para entrar em longas filas, por vezes durante mais de uma hora, por causa dos controlos de segurança sanitária.
Um porta-voz do primeiro-ministro britânico Boris Johnson assegurou que os organizadores da cimeira "fazem tudo o que é possível para garantir que tudo corre bem".
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro em Glasgow, na COP26, para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 acontece cerca de seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5ºC e 2ºC acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia da covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7ºC.
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