Guterres iniciou hoje uma visita ao Paquistão para expressar a sua solidariedade aos paquistaneses que foram afetados recentemente por graves inundações, que provocaram mais de mil mortos, tendo sido recebido à chegada pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Hina Rabbani Khar.
"É muito emocionante para mim ver o nível de sofrimento que tantos paquistaneses estão a ter no momento atual. Porque é de partir o coração ver um povo tão generoso a passar por essa crise", disse Guterres já no decorrer de uma conferência de imprensa em Islamabad, capital paquistanesa.
"Nenhum país merece este destino, mas em particularmente países como o Paquistão, que quase nada fizeram para contribuir para o aquecimento global", frisou o líder da ONU.
Hoje de manhã, António Guterres reuniu-se com o primeiro-ministro paquistanês, Shahbaz Sharif, tendo igualmente previsto encontros com outros representantes governamentais e militares.
De acordo com o secretário-geral da ONU, o Paquistão e outros países em desenvolvimento, desde o Corno de África até ao Sahel, estão a pagar "um preço terrível pela intransigência dos grandes emissores que continuam a apostar nos combustíveis fósseis, em detrimento da ciência, do bom senso e da decência humana básica".
O ex-primeiro-ministro português mostrou-se indignado com o facto de as emissões continuarem a aumentar à medida que as pessoas morrem em inundações e por fome.
"Isto é loucura. Isto é suicídio coletivo. Do Paquistão, faço um apelo global: parem com a loucura, acabem com a guerra com a natureza, invistam em energia renovável agora", pediu.
E à medida que a crise aumenta, segundo António Guterres, fica claro que a maioria dos países está longe de estar preparada.
O líder da ONU defendeu ainda que países desenvolvidos devem intensificar e fornecer ao Paquistão, e a outros países que têm sido severamente fustigados com desastres climáticos, os recursos financeiros e técnicos necessários para sobreviver a eventos climáticos extremos, como foi o caso das recentes inundações que assolaram o território paquistanês.
"Metade de todo o financiamento climático deve ser destinado à adaptação e resiliência no mundo em desenvolvimento. (...) Perdas e danos da crise climática não são um evento futuro. Está a acontecer agora, ao nosso redor. Exorto os Governos a abordarem esta questão na próxima cimeira do clima, com a seriedade que ela merece", sublinhou.
Esta viagem ao Paquistão acontece na sequência de inundações sem precedentes, que mataram mais de mil pessoas e causaram mais de meio milhão de desalojados no país.
A deslocação acontece também a menos de duas semanas depois de Guterres ter pedido 160 milhões de dólares (cerca de 158,75 milhões de euros) em fundos de emergência.
As chuvas de monção e inundações causaram pelo menos 10 mil milhões de dólares (9,92 milhões de euros) em danos e 1.391 mortes, tendo afetado mais de 3,3 milhões de pessoas, uma parte das quais está atualmente a viver em tendas a céu aberto.
Até agora, agências das Nações Unidas e vários países enviaram dezenas de aviões cheios de ajuda. Os Estados Unidos prometeram fornecer assistência às vítimas das inundações no valor de 30 milhões de dólares (29,78 milhões de euros).
O primeiro avião norte-americano chegará hoje ao país, de acordo com as autoridades paquistanesas, que dizem que Washington está a montar uma ponte aérea de ajuda humanitária.
As inundações no Paquistão também fizeram 12.722 feridos, destruíram milhares de quilómetros de estradas, derrubaram pontes e danificaram escolas e hospitais, de acordo com a Agência Nacional de Gestão de Desastres.
As inundações também danificaram alguns dos principais monumentos paquistaneses, incluindo Mohenjo Daro, considerado um dos antigos núcleos urbanos mais bem preservados no sul da Ásia.
"Uma razão importante para a minha visita é chamar a atenção da comunidade internacional para esta catástrofe climática e apelar a um apoio massivo. O Paquistão precisa de apoio financeiro massivo para o alívio e depois para a recuperação", afirmou Guterres, na mesma conferência de imprensa.
"E, como disse esta manhã -- e repito -- não se trata de solidariedade ou generosidade: é uma questão de justiça", concluiu.
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