Falando sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem o mencionar diretamente, Bolsonaro afirmou ter extirpado "a corrupção sistémica que existia no país" e criticou os partidos de esquerda.
"Somente entre o período de 2003 e 2015 onde a esquerda presidiu o Brasil o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegou à casa dos 170 mil milhões de dólares. O responsável por isto [Lula da Silva] foi condenado em três instâncias por unanimidade, delatores devolveram mil milhões de dólares e pagamos para a bolsa de valores americana outros mil milhões [de dólares] por perdas de seus acionistas. Este é o Brasil do passado", disparou o chefe de Estado.
Bolsonaro, que falava em Nova Iorque, iniciou a sua intervenção exaltando o programa de vacinação contra a covid-19 e a produção doméstica de medicamentos na pandemia, sem mencionar ter sido contra aplicação de vacinas em crianças, ter feito críticas aos imunizantes e ter declarado publicamente que não se imunizou contra a doença.
"Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública fazemos isto com a autoridade de um Governo que durante a pandemia de covid19 não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos", afirmou Bolsonaro, citando a pandemia de covid-19, que fez o segundo maior número de vítimas mortais no Brasil.
"O nosso objetivo foi proteger a renda das famílias para que elas conseguissem enfrentar as dificuldades económicas decorrentes da pandemia", acrescentou, referindo-se a um programa que distribuiu dinheiro às famílias pobres na crise sanitária e que atualmente se chama Auxílio Brasil.
O Presidente brasileiro também defendeu que seu Governo vem implementando reformas económicas para a atração de investimentos e melhorias das condições de vida da população, exaltou a queda nos preços dos combustíveis, programas de privatização, resultados do agronegócio e obras de infraestrutura.
"Apesar da crise mundial o Brasil chega a 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em baixa, a economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil ela já começou a cair de forma acentuada", defendeu Bolsonaro.
Falando sobre meio ambiente, tema em que o Brasil passou de exemplo de governação a alvo de críticas, Bolsonaro voltou a dizer que o país preserva dois terços da sua vegetação nativa, dado que tem sido colocado em causa por especialistas, afirmou que o país tem credibilidade no que se refere ao desenvolvimento sustentável, sem mencionar a subida recorde na desflorestação da Amazónia registada na sua gestão.
"Na Amazónia brasileira, área equivalente à Europa ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada ao contrário do que é divulgado pela grande 'media' brasileira e internacional", afirmou Bolsonaro, citando dados contestados por cientistas que colocam o bioma próximo de uma situação de emergência devido à destruição sistémica que sofre.
O Presidente brasileiro defendeu que a agenda do desenvolvimento sustentável é afetada, de várias maneiras, pelas ameaças à paz e à segurança internacional.
"Erguemos as Nações Unidas em meio aos escombros da Segunda Guerra Mundial. O que nos motivava, naquele momento, era a determinação de evitar que se repetisse o ciclo de destruição que marcou a primeira metade do século XX. Até certo ponto, podemos dizer que fomos bem-sucedidos", disse Bolsonaro.
"Mas, hoje, o conflito na Ucrânia serve de alerta. Uma reforma da ONU é essencial para encontrarmos a paz mundial. No caso específico do Conselho de Segurança, após 25 anos de debates, está claro que precisamos buscar soluções inovadoras. O Brasil fala desse assunto com base em uma experiência que remonta aos primórdios da ONU", acrescentou.
Falando sobre o conflito na Europa, Bolsonaro se manifestou em defesa da negociação de um cessar-fogo imediato na Ucrânia e disse ser contra sanções económicas impostas à Rússia.
A viagem do Presidente brasileiro para participar na Assembleia-Geral na sede da ONU provocou reações em Nova Iorque.
Na madrugada de hoje, imagens de Bolsonaro foram projetadas pela Rede nos Estados Unidos pela Democracia no Brasil na fachada lateral do prédio da ONU junto com palavras em inglês, português, francês, mandarim e espanhol que diziam "vergonha brasileira", "desgraça" e "mentiroso."
Apoiantes do chefe de Estado fizeram uma ação a seu favor na porta do hotel antes de sair para o discurso na sede da ONU.
Este foi o quarto discurso de Bolsonaro diante da plateia global formada pelos membros da ONU.
Em encontros anteriores, o chefe de Estado brasileiro usou a tribuna da organização multilateral para defender seu Governo de críticas sobre a destruição da Amazónia e a subida da desflorestação, atacar adversários internos, fazer críticas a países vizinhos com governos de esquerda como Cuba e Venezuela e defender remédios ineficazes contra a covid-19 durante a pandemia.
O Brasil realizará eleições presidenciais em outubro e o atual Presidente, que tenta a reeleição, está em segundo lugar nas sondagens, com média de 33% das intenções de voto face a Luís Inácio Lula da Silva, que tem o apoio de 45% dos brasileiros inquiridos nas sondagens.
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