Os pais e familiares das vítimas do massacre na escola primária de Robb, em Uvalde, voltaram a apelar na segunda-feira à criação de legislação que aumente o controlo sobre as armas de fogo no estado do Texas e no país.
Numa reunião com dois congressistas democratas da Câmara dos Representantes, vários pais mostraram-se descontentes com a falta de ação após o tiroteio, que fez 21 mortos - incluindo 19 crianças e dois professores, naquele que foi o pior massacre escolar desde o ataque à escola de Sandy Hook, em 2012.
"O facto de ter de estar aqui e dizer-vos, governantes estatais e federais, como é que fazem o vosso trabalho é prova do enorme fracasso a que temos assistido", disse Kimberly Rubio, mãe de uma criança de dez anos assassinada no ataque de 24 de maio, citada pela ABC News.
Rubio, mãe de Lexi Rubio, acrescentou que "este não é o primeiro massacre escolar e não será o último até banirmos estas armas a nível nacional".
Noutro momento, Brett Cross, tio e tutor de Uziyah Garcia, uma vítima de dez anos, questionou "quantos mais crianças têm de morrer para o governo fazer algo".
"Falei com o governador [Greg] Abbott quando lhe pedi para marcar uma sessão especial e aumentar a idade mínima [para compra de armas de fogo] para 21 anos. Ele disse que não faria diferença", lamentou tremulamente Cross, entre lágrimas.
O ataque em Uvalde, pouco tempo depois de um tiroteio em Buffalo rodeado de contextos racistas e de supremacia branca, reacendeu o debate nos Estados Unidos em torno da facilidade com que as armas de fogo podem ser compradas, usadas e carregadas. O facto de ter ocorrido no Texas, um estado extremamente permissivo em relação ao porte de arma e que organizou uma convenção de armas de fogo dias depois do ataque, salientou a polarização e falta de ação no debate.
O governador do estado do Texas, Greg Abbott, é um dos maiores defensores do direito de posse de armas, promovendo legislação em 2021 que tornava ainda mais flexível o acesso e compra de armas. No estado, a idade mínima para compra de armas de fogo é de 18 anos - aqui explicamos o quão fácil é comprar uma arma no Texas.
Os familiares na sessão também lamentaram a enorme burocracia em torno do acesso a doações por pessoas que quiseram ajudar os familiares das vítimas, explicando que precisaram de preencher longos inquéritos e formulários enquanto faziam o luto pelas crianças.
Uvalde families deserve transparency and accountability for the tragedy that occurred at Robb Elementary. Condolences aren't enough.
— Joaquin Castro (@JoaquinCastrotx) September 27, 2022
Today, Rep. @JacksonLeeTX18 and I went to Uvalde to talk with families about the federal resources and support they need to heal. pic.twitter.com/SID07XvYBz
Em resposta, o congressista democrata e antigo candidato presidencial Joaquin Castro, eleito para a Câmara dos Representantes pelo estado do Texas, concordou que "a comunidade foi falhada por todos os níveis de governo, incluindo o governador do Texas, o departamento de Segurança Pública e os autarcas locais que se recusaram a divulgar informação básica sobre o que aconteceu".
Castro, abordando ainda o facto de que as autoridades policiais e autárquicas se terem recusado a publicar documentos e relatórios sobre a resposta ao ataque, considerou que isso era "um segundo tipo de ataque à comunidade de Uvalde".
Já a congressista Sheila Jackson Lee pediu aos familiares das vítimas para usar a gravação da reunião e partilhá-la com mais deputados em Washington D.C., de modo a apelar a uma maior intervenção e legislação sobre a posse de armas.
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