O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não ficou com saudades do curto período de tempo em que Liz Truss esteve na liderança do Reino Unido, acusando a antiga primeira-ministra britânica de ter acentuado o clima de tensão nuclear e questionando o seu estado mental.
Respondendo aos jornalistas depois de um longo discurso no Fórum de Discussão Valdai, em Moscovo (considerado um dos principais meios de propaganda do Kremlin), Putin defendeu que a Rússia "nunca disse nada proativo sobre o possível uso de armas nucleares", voltando a apontar o dedo ao Ocidente".
"Os países ocidentais procuram aplicar pressão a todos os países, procurando por mais argumentos para encorajar e convencer os nossos amigos e estados neutrais que têm de se unir contra a Rússia. As provocações com o uso de armas nucleares são usadas nesse sentido - para ter um impacto nos nossos aliados, nos nossos amigos e nos estados neutrais", argumentou.
Putin considera que o risco do uso de armas nucleares é inevitável "porque existe sempre o perigo de elas serem usadas", mas reitera que a Rússia "apenas sugeriu o uso em resposta a declarações por líderes ocidentais".
Liz Truss? "Estava um pouco fora de si"
Sobre Liz Truss, que na semana passada entrou para a história como a primeira-ministra britânica que esteve menos tempo no cargo, após 45 dias de mandato, Vladimir Putin criticou a rápida prontidão com que a anterior líder do Reino Unido respondeu, caso precisasse de usar armas nucleares.
"Disse que o Reino Unido é um poder nuclear e que a primeira-ministra tinha isso no seu mandato. Disse que estava preparada para o fazer e ninguém lhe respondeu enquanto dizia disparates", descreveu o presidente russo. "Estava um pouco fora de si. Como é possível dizer estas coisas em público?", acrescentou.
Liz Truss was "a bit out of it" when she made comments about nuclear weapons, says Russian President Vladimir Putin.
— Sky News (@SkyNews) October 27, 2022
He explains that Russia 'never said anything proactively about using nuclear weapons', "we have only hinted in response" to Western leaders' statements pic.twitter.com/MiLrygy7bT
A referência de Putin é relativa a uma resposta que Liz Truss deu durante uma entrevista, quando era candidata à liderança do Partido Conservador britânico. Questionada sobre como se sentiria caso tivesse de 'premir o botão' e ordenar o uso de armas nucleares, Truss respondeu sem hesitação que "esse é um dever importante do primeiro-ministro e estou pronta para o fazer".
Não é a primeira vez que a Rússia critica Liz Truss, seja pelo seu papel como primeira-ministra ou, antes, como ministra dos Negócios Estrangeiros do governo de Boris Johnson. Em fevereiro, a ministra foi a Moscovo dialogar com o homólogo russo, Sergei Lavrov, mas a reunião foi tão mal acolhida que Lavrov comentou que falar com Truss era como "um mudo falar com um surdo".
Em outro evento, Lavrov voltou a gozar com Truss, depois de esta confundir o Mar Báltico com o Mar Negro.
Durante o seu discurso no Fórum de Discussão Valdai, Putin voltou a atirar as culpas da escalada da guerra para o Ocidente, e acusou os países ocidentais de querem importar para a Rússia a 'cultura do cancelamento' (um conceito que ganhou popularidade nos Estados Unidos, para atacar os apelos a uma maior representatividade de género em produções artísticas).
"A Rússia nunca vai tolerar que o Ocidente lhe diga o que fazer"
Para Vladimir Putin, a Rússia não é um inimigo do Ocidente, mas avisou que "a Rússia nunca vai tolerar que o Ocidente lhe diga o que fazer".
"O diálogo entre Rússia e Ocidente e outros centros de desenvolvimento tornar-se-á mais importante na nova ordem mundial. Tentamos criar relações com o Ocidente e a Nato, ser amigos deles. Mas o Ocidente impõe sanções àqueles que não querem estar debaixo do seu polegar", afirmou, depois de acrescentar mais um comentário sobre uma alegada assimilação de valores progressistas, acrescentando que a Europa "não segue valores religiosos".
O líder do Kremlin garantiu ainda que a Rússia "não procura hegemonia" no panorama mundial, e que "não está a desafiar o Ocidente", mas está sim a "reservar o seu direito a desenvolver-se".
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