O vídeo pré-gravado do discurso deveria ter sido exibido na abertura da Feira Internacional de Importação da China (CIIE), na sexta-feira passada, mas o porta-voz de Michel e diplomatas confirmaram o cancelamento da transmissão.
"Os chineses queriam censurar parte do discurso de Charles Michel. Bruxelas preferiu cancelar a transmissão do discurso na sua totalidade", disse um dos diplomatas à AFP, sob a condição de não ser identificado.
Outro diplomata que também pediu para não ser identificado disse que as autoridades chinesas queriam censurar todas as referências de Michel à crise na Ucrânia.
Trata-se de um assunto sensível no país asiático, que oficialmente quer ser neutro, mas que continua a ser um aliado estratégico da Rússia.
Questionado hoje sobre o assunto numa conferência de imprensa em Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, disse não ter conhecimento deste episódio durante a CIIE.
"O presidente Michel foi convidado a discursar na feira de Xangai. Como solicitado pelas autoridades chinesas, tínhamos de facto fornecido uma mensagem pré-gravada, que no final não foi transmitida", disse o porta-voz do presidente do Conselho Europeu, Barend Leyts, à AFP em Bruxelas.
"Transmitimos isto através dos canais diplomáticos habituais", acrescentou.
As relações entre a China e a União Europeia (UE) deterioraram-se desde que as duas partes decretaram sanções devido a acusações a Pequim de violações dos direitos humanos contra a minoria muçulmana uighur na região de Xinjiang, no noroeste do país.
Pequim também impôs um embargo comercial a produtos provenientes da Lituânia em resposta à aproximação entre Vilnius e Taiwan, uma ilha que a China considera parte do seu território.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano, os líderes da UE têm apelado repetidamente a Pequim para que condene publicamente as ações da Rússia, mas sem sucesso.
A UE considera a China um "parceiro, concorrente económico e rival sistémico", de acordo com uma formulação adotada em 2019.
Na última cimeira da UE, em outubro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, denunciou o contínuo "curso assertivo" e a determinação da China em exercer o seu domínio na Ásia, bem como a aliança entre Pequim e Moscovo.
Apesar das diferenças, os laços comerciais entre as duas partes continuam, à semelhança da Alemanha, cujo chanceler, Olaf Scholz, se tornou, na semana passada, o primeiro líder dos sete países mais industrializados (G7) a visitar a China desde o surto de covid-19, no final de 2019.
Michel irá participar na cimeira do G20 na ilha indonésia de Bali, na próxima semana, juntamente com Von der Leyen, e o presidente chinês, Xi Jinping.
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