"Partilho esta preocupação do Presidente [do Brasil, Inácio] Lula da Silva sobre a expansão da influência chinesa e russa, em diferentes níveis, na América Latina", declarou o antigo porta-voz do Governo espanhol.
No final do mês passado, Lula da Silva visitou a Argentina e o Uruguai e expressou preocupação com a expansão da influência russa e, nomeadamente, chinesa, nestes dois países, declarando que a América do Sul e a América Latina deveriam manter-se unidas.
"A minha preocupação em relação à Rússia existe porque além do conteúdo económico, com os investimentos e comércio, também há um conteúdo militar, nomeadamente quando vemos a interferência russa na África central, no Sahel ou mesmo Venezuela", sublinhou Piqué, que ocupou os cargos de ministro da Ciência e Tecnologia, da Indústria e Energia e dos Negócios Estrangeiro entre 1996 e 2003, nomeadamente durante o governo do primeiro-ministro José Maria Aznar, do Partido Popular (PP).
Piqué referiu que, em relação à China, as preocupações são distintas, pois "os investimentos chineses no conjunto da América Latina são cada vez mais importantes e em relação alguns países, converteu-se no primeiro parceiro comercial. As únicas exceções lógicas são o México e os Estados Unidos".
"Os Estados Unidos e nós temos uma grande responsabilidade importante para que América Latina não acabe se aproximando das posições que mantêm estas potenciais autoritárias e que preservem os valores democráticos", afirmou.
Para o antigo político espanhol, toda a América Latina tem de estar em sintonia para "não perder toda a sua história conjunta, as línguas, a cultura que a aproxima".
"É importante ainda a consolidação do Mercosul para os seus integrantes, pois enquanto bloco podem realizar mais, e é importante também que, unidos, estabeleçam finalmente o acordo com a União Europeia (UE)", adiantando que uma moeda única do bloco, proposta por Lula da Silva e o Presidente argentino, Alberto Fernández, está longe de ser uma realidade.
De acordo com o empresário espanhol, "no seu conjunto e unida, a América Latina tem relevância no cenário político e, através da conexão com Espanha e Portugal, poderá ter uma interlocução global mais clara", acrescentou.
"Temos um caminho que podemos melhorar [nas relações políticas e comerciais] entre os países ibéricos e a América Latina. O comércio entre Espanha e Portugal é superior àquele que os espanhóis mantêm com toda a América Latina. Assim, continua a haver muito terreno para estas relações comerciais se ampliarem entre as duas regiões", acrescentou.
"Do ponto de vista político, vamos esperar pela XXVIII Cimeira Ibero-Americana de chefes de Estado e de Governo, na República Dominicana [que se irá realizar entre 24 e 25 de março]. Como sabemos, houve muitas mudanças políticas na América Latina e teremos que repensar muitas coisas", avaliou.
Para Piqué, nesta cimeira na República Dominicana será "possível perceber que marchas de manobra serão necessárias realizar para manter as boas relações comerciais com estes países e também as relações do ponto de vista político".
Josep Piqué estará em Lisboa, na quarta-feira, no Fórum La Toja - Vínculo Atlântico, do qual é o presidente.
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