Ghannouchi, 81 anos, que chefiou o parlamento dissolvido em julho de 2021 por Kais Saied, é o mais proeminente opositor a ser detido desde o golpe.
Ghannouchi foi detido pela polícia na sua residência em Tunis e "levado para um local desconhecido", informou o movimento Ennahdha numa declaração.
"Ennahdha denuncia este acontecimento extremamente grave e apela à libertação imediata de Rached Ghannouchi", acrescentou o grupo islâmico.
A detenção ocorreu depois de Ghannouchi ter declarado aos media no fim-de-semana que a Tunísia enfrentaria a ameaça da "guerra civil" se o Islão político, de onde o seu partido é originário, fosse erradicado.
A prisão de Ghannouchi verificou-se durante o "iftar", a refeição no final do jejum do Ramadão, e horas antes da celebração, pelos fiéis, da noite sagrada do "destino".
Ghannouchi compareceu em fevereiro na instância judicial anti-terrorista na sequência de uma queixa que o acusava de ter chamado "tiranos" à polícia.
O mesmo opositor político de Saied foi também ouvido em novembro de 2022 por um juiz da seção judicial anti-terrorista num caso relacionado com o alegado envio de jihadistas para a Síria e o Iraque.
Em julho de 2022 foi também interrogado por suspeitas de corrupção e branqueamento de dinheiro relacionadas com transferências de fundos do estrangeiro para uma instituição de caridade filiada na Ennahdha.
Desde o início de fevereiro, as autoridades detiveram mais de vinte opositores e personalidades, incluindo antigos ministros, empresários e o proprietário da estação de rádio mais ouvida do país, a Radio Mosaïque.
Estas detenções, denunciadas por organizações não-governamentais (ONG) locais e internacionais, visaram figuras políticas de destaque da Frente Nacional de Salvação (FSN), a principal coligação de oposição a que Ennahdha pertence.
Entretanto, o Presidente Saied, que detém o poder total desde o seu golpe de julho de 2021, apelidou de "terroristas" aos detidos, dizendo que estavam envolvidos numa "conspiração contra a segurança do Estado".
"A detenção do chefe do maior partido político do país, que sempre demonstrou o seu empenho numa acção política pacífica, marca uma nova fase na crise", considerou hoje à noite o presidente da FSN, Ahmed Néjib Chebbi, em declarações à AFP.
"É uma questão de vingança cega contra os opositores", comentou ainda.
Após o golpe, Saied reformou a constituição para estabelecer um sistema ultra-presidencialista em detrimento do parlamento, que já não tem poderes reais, ao contrário da assembleia dissolvida e que era dominada pelo Ennahdha.
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