"É evidente que a atual abordagem ao Mediterrâneo não está a funcionar", reconheceu o diretor do Departamento de Emergências da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Federico Soda.
Numa declaração conjunta com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Soda afirmou que o Mediterrâneo "continua a ser a rota migratória mais perigosa do mundo, com a taxa de mortalidade mais elevada".
Os Estados devem concordar em colmatar as lacunas em matéria de busca e salvamento, desembarque rápido e implementação de rotas migratórias regulares e seguras, insistiu.
O naufrágio correu na noite de terça para quarta-feira, a 47 milhas náuticas (87 quilómetros) de Pilos, no mar Jónico, com uma embarcação em que viajavam cerca de 750 pessoas, segundo sobreviventes.
Desde quarta-feira, as equipas de socorro salvaram 104 pessoas e recuperaram 78 corpos, durante uma operação que deverá terminar hoje, dada a impossibilidade de encontrar mais sobreviventes.
A guarda costeira grega disse que nenhum dos migrantes a bordo do barco de pesca estava equipado com colete salva-vidas.
A embarcação tinha sido localizada na terça-feira à tarde, por um avião da Frontex, a agência europeia de segurança fronteiriça e costeira.
Segundo as autoridades portuárias gregas, os ocupantes do pesqueiro, que tinha zarpado da Líbia com Itália como destino, "recusaram qualquer ajuda".
A OIM disse temer que "centenas de pessoas" se tenham afogado "numa das mais devastadoras tragédias no Mediterrâneo desde há uma década".
A responsável pela área da proteção do ACNUR, Gillian Triggs, defendeu a necessidade de esforços coletivos, dado o aumento dos movimentos de refugiados e migrantes no Mediterrâneo.
Em concreto, disse ser essencial uma maior coordenação, solidariedade e partilha de responsabilidades entre todos os Estados mediterrânicos.
"Isto inclui um acordo sobre um mecanismo regional de desembarque e redistribuição das pessoas que chegam por mar, que continuamos a defender", afirmou.
"Tem de haver uma investigação exaustiva sobre os acontecimentos que se desenrolaram durante esta tragédia. E espero que possamos encontrar respostas e aprender com a experiência", disse Jeremy Laurence, porta-voz do ACNUR.
"O que aconteceu na quarta-feira sublinha a necessidade de investigar os passadores e traficantes de seres humanos e de garantir que são levados à justiça", acrescentou.
Além dos passadores e traficantes, a agência europeia Frontex foi acusada, juntamente com a Grécia e outros países europeus, de não fazer o suficiente para evitar estas tragédias.
Além dos barcos de patrulha da polícia portuária, uma fragata da Marinha de guerra grega, um avião e um helicóptero da Força Aérea, bem como seis navios que navegavam naquela zona participaram na operação de salvamento.
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