"Em 25 anos é a primeira vez que vejo isto. Hoje é um dia de trabalho perdido", indicou Ivan, funcionário de uma sapataria de Châtelet-les Halles.
Nos tumultos da noite de quinta-feira e madrugada de hoje, foram estilhaçadas montras, incendiadas viaturas, saqueadas lojas. "Tenho uma família para alimentar é estúpido fazer isto", prosseguiu Ivan, que aguardava a chegada do gerente.
Marieline, co-gerente do café "Au coeur couronné" permitiu a entrada no estabelecimento de todos os seus clientes que estavam na esplanada e foram surpreendidos pelos protestos.
"Estávamos e estamos muito inquietos", disse. "Quando atacaram o estabelecimento chamei a polícia e apaguei mesmo um incêndio num caixote do lixo ao lado do restaurante".
No entanto, não pretende fechar o espaço esta noite. "Tenho reservas, sou obrigada a abrir, mas se isto continuar vou talvez fechar mais cedo", acrescentou.
Noëlle, que trabalha no restaurante Maison Pouquelin em Châtelet receia que os tumultos prossigam.
"Passámos pelo Covid, ficámos sem clientes, agora se isto recomeça é a morte dos comerciantes", considerou.
Presente nos protestos, Ibrahim (nome fictício) está sentado junto a uma loja de artigos desportivos e diz ter visto "tiros de morteiro" de fogo-de-artifício. E diz ter ficado surpreendido pela evolução dos acontecimentos.
"Não têm razão, porque roubar e pilhar não vai acrescentar nada à investigação. Mas ao demonstrar a nossa cólera, isso significa que estamos fartos das violências policiais", argumentou, sem precisar se pretende participar nas concentrações de protestos previstas para esta noite.
Após os incidentes em Paris, a presidente da câmara municipal da capital, Anne Hidalgo, reuniu uma célula de crise na manhã de hoje.
A morte do jovem Nahel de 17 anos, num controlo de trânsito na terça-feira, captado pelas câmaras de vigilância, fez regressar a tensão entre jovens e a polícia nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e noutros bairros desfavorecidos da capital francesa.
Os confrontos contra as forças de segurança surgiram logo na noite de terça-feira nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e noutros bairros desfavorecidos da capital francesa, e na madrugada de quinta-feira, foram danificados edifícios públicos e queimados carros, tendo sido detidas cerca de 150 pessoas.
Os protestos prosseguiram a madrugada de hoje e alastraram a diversas regiões do país, incluindo a capital, com a mobilização de um total de 40.000 polícias e relatos de centenas de detenções.
O agente da polícia suspeito da morte do jovem foi detido, acusado de homicídio, e vai ficar em prisão preventiva.
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